30/04/2009

O cara perfeito.


Eu gosto de como você se empresta para a minha vontade de sentir de novo. Saio do colégio feliz porque estava frio e roubei um abraço seu, com uma blusa quentinha, que aquece bem pra quem senta perto do ar condicionado, chefiado pelo Augusto.
Eu gosto do seu sorriso porque você consegue a santíssima trindade do sorriso perfeito: sincero, intelectual, meigo. Você tem aquela pele braquinha, quase da cor da minha formando um contraste dos céus pra quem nos ver de perto juntos. É o labirinto onde eu fico quando você acha que eu não estou ali. Entre seu sorriso e sua pele.
Você, absurdamente animado com milhões de coisas maravilhosas que você lê ou escuta pela metade, querendo saber tudo ao mesmo tempo pra esquecer mais rápido e de uma vez. Querendo não saciar das coisas, pra caber mais do resto todo que nunca chega. Você tem a noção mais bonita de suficiência e exagero que já vi. Você tem o desapego pós empolgação menos levado a sério que já vi. Mas isso tudo é escondido pelos seus olhos de desligamento. É quase desinteressante o seu funcionamento - pq você é tão perfeito em coisas tão pequenas que eu já sei até como você funciona - não fosse tão digno de me emprestar um pouco de umidade pra secura que trago da rua.
Você tem todos os gominhos no lugar como se fosse um garoto de academia. Isso me faz rir embaixo do edredom, porque antes de dormir eu fico voltando a fita dos meus risos que solto quando estou perto de você. Você fez a escolha da vida dos homens desgastados e pra dentro, mas é como se os deuses te mandassem, ainda assim, doses diárias de uma beleza que me surpreende a cada vez que tento te transformar em qualquer coisa da minha tarde. Não precisa pente, banho, esteira, sol, peso, gilete. Logo de manhã no colégio e você está lá, com a beleza que eu só tenho, ao acordar, se acordar duas horas antes.
Eu gosto de você porque são tantos milhões de coisas que você sabe, mas você fritou e não diz nada. Você sabe tanto que tem preguiça. E perto de voce sou a típica da garota boba que leu nove livros, sabe de sete músicas, viu quatro filmes, conhece dois lugares e acha que ainda ama um homem. Quem sabe mesmo, nem começa a dizer. É tanto que dá preguiça. E ainda você diz que me acha incrível. E eu o amo mais.
Então eu gosto de você, de novo, porque não falamos nada. Simplismente gostamos de estarmos juntos, e ponto. Você porque sabe muito. Eu porque não sei porra nenhuma.
Faz minha vigília quando ouço sua voz do outro lado da linha ou quando simplismente leio uma mensagem de texto sua me chamando de sua musa. Parece errado, mas pra mim, pros defeitos que me formaram e por isso mesmo é só o que posso sentir quando sinto sem script, sinto que as coisas estão onde deveriam. E meu vazio, e tudo. Se encaixa. De novo, levando a pureza bem a sério pra pelo menos existir um pouquinho em meio a tudo isso. E eu, você não sabe como te agradeço, vou escutar música alta no carro sem perceber que o sinal abriu.

Ninguém te adora Alguém


Peso na consciência é o que eu sinto agora. Sinto meu coração se apertando acompanhado daquele sentimento que com certeza não seria capaz de descrevê-lo. Hoje – digo – nessa minha fase atual, eu dificilmente me arrependo de algo que faço. Mas, nem sempre foi assim! Uma desventura do meu passado me pesa – melhor – me aflige.
Fase da rebeldia. Tenho certeza que agora sua mente se dilatou de lembranças. Isso é orgânico, Durkheim explica. Eu não. Pois é, também curti muito. Mas nesse interstício, eu tive o prazer de conhecer Alguém (não sabia que seria um prazer, não mesmo). Depois de várias relações e interações sociais em nosso grupo, sétima série, nosso contato já era quase primário. Tudo corria bem, até que ocorre um fato social. Alguém virou punk. Que ridículo! Como aquilo era tosco. Podre, galerinha de modinha se enxergue! Foi-se, então, um laço corrompido. Também mais um ano vivido.
Eu variei de grupo. Alguém se mudou. Nem lembrava mais de Alguém, era uma pseudorepulsão. Alguém sumiu. Alguém se mudou de volta. Minha memória alienada se libertou de Alguém. Até aí tudo bem. De repente fui preso, me tornei um deltento. Oh doce destino, por que me usas como um barco à vela no rio? Se me governa, deixo que a correnteza me leve.
Num dia normal, num banho-de-sol na prisão. Com quem me deparo? Mais uma vez o sentimento indizível me corroeu as entranhas. Assustei. Alguém estava lá, bem de frente à minha covardia. Fingi que não vi, por medo talvez. Foi assim por um tempo. Um dia tivemos o primeiro contato. Beleza, Alguém está diferente. Alguém amadureceu, já não era mais punk pelo menos. Eu também. Menos um ano de deltenção, um ano de mais relações e interações sociais. Alguém e eu estávamos numa boa. Eu até admirava alguém, tinha algo a mais nele.
Uau, que destino utópico. Eu e alguém no mesmo grupo social. Massa! O grupo era outro. Eu era outro. Alguém era outro. Era uma relação harmoniosa. E eu nem me lembrava das desventuras rebeldes e punks do passado. Eu e Alguém conversávamos constantemente sobre uma garota virtuosa do nosso grupo. Ah, e que garota!
Um dia ouvi falar de uma web site de Alguém. Momento de redenção de Alguém na minha história (vida). Eu comecei a ler o que tinha no site, e aquelas linhas transcenderam meu ser. Linhas escritas com uma puritana sátira e ao mesmo tempo uma macabra delicadeza. Eu pirei, pirei, pirei mesmo. Juro! Que choque. Senti-me um World Trade Center sendo nocauteado por um avião controlado por Alguém, um avião cheio de inocentes palavras conformadas.
Alguém mudou tanto. Alguém se tornara um puta escritor. Ótimo em física – diga-se de passagem. Alguém me fez sentir mais um sentimento inenarrável. Ah! Como alguém me surpreendeu. Como Alguém é puro.
Eu era míope para Alguém. Finalmente tenho minha luneta mágica para enxergar-te Alguém. Alguém me fez nascer o que era apenas embrionário. Fez-me nascer essa vontade de escrever para tudo e sobre tudo. Essa vontade de escrever para a moça virtuosa, sobre um sentimento puro e cristalino.
Mas, perto de Alguém sou Ninguém. Ninguém que adora e admira Alguém. Por isso Ninguém quer agradecer Alguém por tudo, e fazer as desventuras do passado lembranças engraçadas.

Dedicado à Afar S.