31/07/2009

I have already been somebody.

Esqueci a luz do abajour ligada e no meio da noite ela começou a piscar. Abri os olhos pesados, fui ao banheiro à procura daquela luzinha que não me deixava dormir. Um precipício. Um verdadeiro abismo.
O abajour me fez lembrar que eu não estava dormindo mesmo, mais fiquei incomodada com aquela coisinha laranja piscando porque isso me fez lembrar da luz da vida. Como se fosse uma luz no fim do túnel e por mais que eu corra ela só fica distante e distante. Uma espécie de fé misturada com desespero. O que me lembra que alegria e tristeza sempre andam juntas. Quando uma está na minha mesa, a outra dorme na minha cama. Olhei pra tristeza, deitada na minha cama e senti falta das mãos macias e grandes, do tato, do melhor toque do mundo. Sentei na beirinha do vão da pia e fiquei ali, chocada por alguns instantes. O tempo já tinha passado e até mesmo quem antes tentava me dar apoio e abraço pela sua perda se esqueceram de mim. Talvez eles achem que já faz tempo demais e sentido nenhum. Ah quem sabe a Rafa esteja recuperada. Mais afinal, de que eu teria que me recuperar? Você só passou um dia comigo, uma noite e eu me achei no direito de pegar tudo aquilo lá e me apaixonar de verdade. Olhei ao redor, ontem de madrugada, e vi as mil possibilidades de viver que a vida já trouxe pra mim nestes quase 4 meses sem você. Todas as vezes que eu me senti um lixo quando minhas amigas me ligavam e chamavam para um programinha, eu fazia uma voz de doente e preferia ficar no meu sofá ou então na mesinha de estudos pra lamentar tudo o que não aconteceu. Hoje minhas amigas já não ligam mais e tudo que eu precisava era que elas ligassem e me mandassem tomar bem no meio do meu CU porque é isso que eu preciso. Todos os 21 garotos que eu dispensei dando a mesma resposta a todos: "O amor da minha vida já passou, então é melhor não nos enganarmos, não é?" E todos compreendiam. E quando não compreendiam eu inventava que estava com gripe suína e pronto.
Hoje, aqui olhando minhas malas e pensando que a única coisa que segura minha onda é meu trabalho. Não como antes, pois agora todos meus textos são pra essa vagabunda da tristeza que tomou conta da minha cama. Mas, agora nem meu blog sozinha eu tenho. O que vai me segurar? E quando todas minhas notas estiverem baixas, o que vai me fazer feliz e andar de cabeça erguida? Me pego lembrando de que eu só queria que chegasse um e-mail seu. Ou melhor: que vc chegasse ao vivo. Que merda, eu sou tão sua. Eu sou tão sua que eu não deixo ninguém mais tocar em mim. Tão sua que eu vou esperar todas as noites por você, como se no outro dia você chegasse, fizesse uma cara feliz de me ver ainda de esperando e então a gente vai ser feliz pra sempre. Não porque seja uma idiota, não me dê valor ou não tenha nada melhor pra fazer. Apenas porque você me lembra o mistério da vida. Simplesmente porque é assim que a gente faz com a nossa própria existência: não entendemos nada, mas continuamos insistindo.
Admiro minha força diante de você. Fingir que não estou nem aí pra mim não é muito difícil. Porque antes de você, meu amor, eu não estava mesmo nem aí. Depois que você apareceu na minha vida é que passei a viver em prol de fazer a porcaria da cara de simpática, gastar uma energia enorme em cima da droga do salto e ter muito cuidado pra não cair. Ninguém vê, mais já acordo fazendo uma força enorme para não me matar. Já acordo fazendo uma força enorme pra não berrar de chorar e mandar todo mundo ir à merda. E mais força ainda é quando eu te vejo e a única porcaria que você faz é me dar um oi simplório das pessoas que só se conhecem de vista e não tiveram nada mais que isso. O Oi simplório que quando é dito fico morrendo de vontade de te abraçar, te beijar, de rasgar, ali mesmo na frente de todo mundo. Você, meu professor, o amor da minha vida, razão para toda essa calma que se fez em mim, motivo por ainda eu conseguir fingir ser forte, estale os dedos e olhe para o chão. Eu estarei ali, arrastada em possibilidades e forte em atração para subir até o andar para o qual você me der asas. Aqui estou eu aberta até onde se pode rasgar, exposta até onde se pode vender e insinuando até onde se pode explicitar. E ainda que isolada de cúmplices, longe de aplausos e renegada de benção, aqui estou eu novamente servindo com prazer os meus joelhos à divindade do desejo. Se você não puder esperar, será bem-vindo em minha ansiedade. Se você me quiser embaixo de mangas, será bem-vindo em meu masoquismo feminino nada original.
Volta porque pode até ter uma coxa mais dura. Pode até ter uma conta bancária mais recheada. Pode até ter alguma descolada que te deixe instigado. Mas não tem nenhuma melhor do que eu. Não tem. E não me sinto fraca ou boba ou perdendo meu tempo por chorar por você TODAS as noites. E eu malho todo dia igual a essas suas amiguinhas de quem você tanto gosta, mas tenho algo que certamente você não encontra nelas: assunto. Bastante assunto. Eu não faço desfile de moda todos os segundos do meu dia porque me acho bonita sem precisar de chapinha, salto alto e peito de pomba. Eu tenho pena das mulheres que correm o tempo todo atrás de se tornarem a melhor fruta de uma feira. Pra depois serem apalpadas e terem seus bagaços cuspidos.
Também sou convidada para essas festinhas com gente "wanna be" que você adora. Mas eu já sou alguém e não preciso mais querer ser.
Eu tô morrendo de vontade de te ligar agora e perguntar se eu posso mesmo te esquecer de uma vez. Mais ao invés disso, eu apago o abajour, volto pra minha cama escutando The Fray até conseguir pegar no sono, enquanto sua imagem se torna cada vez mais nítida na minha mente e todas suas palavras pairam pelo ar.

15/07/2009

Revival

Por: Rafaella Barreto, Cléo Araújo, Joana Araújo (mãe de Cléo).




Trocaram olhares no xerox do DA.
Alfredo afixando um pôster para divulgação da “XXIII Festa dos Veteranos – Turma de 2008”.
Ella copiando uma apostila de Direito Civil I.
Alfredo - embora estivesse afixando um pôster para divulgação da “XXIII Festa dos Veteranos – Turma de 2008” - de camisa polo, sério, estilo futuro advogado
Ella de maquiagem leve, usando um vestido longo de frio e uma sandália baixa, estilo garotinha que quer dar ar de mais velha na faculdade.
Estudavam na mesma faculdade, mas em anos diferentes. Ella no primeiro, Alfredo no último.
Alfredo já tinha aulas de Direito Internacional.
Ella fazia DP de Teoria Geral do Estado.
Ella andava de ônibus. Alfredo de Fiat Zerinho.
Pois trocaram olhares no xerox.
E depois na cantina.
E depois no boteco da frente da faculdade, quando se cruzaram na porta do banheiro. Que era unissex.
Aí, um amigo falou dela pra ele daqui. Uma amiga falou dele pra ela de cá.
Já se sabiam então. Fácil assim. Mais fácil do que colar na prova de Direito do Trabalho.
Para se quererem, não precisavam de mais nada.
Era só esperar o dia da chopada.
É que além do chopp, a chopada tinha também um show do The Fray cover. E foi ali, no meio da galera, que eles conversaram e riram um pouco das piadas um do outro. E foi no refrão de “Trust Me” que ele colocou um Trident de menta na boca. E que eles se beijaram pela primeira vez.
Aí resolveram que iam se beijar também no dia seguinte ao da chopada.
E no dia seguinte ao dia seguinte.
E naquela semana todinha.
E na outra.
Aí ela começou a se afastar dos amigos.
E ele começou a carregar sua “menina” para as festas do último ano.
Não se desgrudavam um segundo sequer e enforcavam todas as aulas que existiam.
Mas foi depois da “XXIII Festa dos Veteranos – Turma de 2008”, da qual saíram quando o sol já ameaçava nascer, que acabaram dormindo juntos. Foi na república de umas amigas dela. Verdade que já era quase dia, verdade que a noite tinha sido longa, verdade que eles tinham ouvido todos os CD's que havia na república e tomaram alguns refrigerantantes, ambos não bebiam, verdade que queriam dormir... Mas “Dormir? Pra quê? Deixa para dormir depois que a gente se formar e quando, aí sim, a gente não tiver mais nada o que fazer dessa vida!”
E foi ali que ficaram até meio dia, ele de cueca e ela no seu terno parecido com de advogado, ouvindo “Radiohead” comendo bombom de uma caixa de especialidades da Nestlé, pensando nos nomes que colocariam nos seus filhos, sem se desgrudar um segundo sequer e, como de hábito, enforcando todas as aulas que existiam.
Dois bimestres, duas provas de Processo Penal, um exame e dois recursos para pedido de abono de faltas depois, já não estavam mais juntos.
Ella voltou para a sua turma de amigas, que continuou sendo certinha com os horários e curtindo um livrinho de vez em quando.
Alfredo começou a estudar para o exame da OAB.
Trocaram olhares cinco anos depois num escritório chique na Avenida Faria Lima.
Ella dentro de uma sala de reunião envidraçada.
Alfredo na sua mesa, do lado de lá do vidro, fingindo ler uma publicação.
Ele não tinha certeza se ela era Ella.
Ela tinha certeza absoluta de que ele era Alfredo.
Pois trocaram olhares.
E depois?
Voltaram para casa. Cada um para sua.
Mil coisas na cabeça.
Ele colocou um CD do The Fray para tocar. Abaixou o volume das luzes, pegou um pedaço de pizza congelado, um refrigerante e deitou no sofá. Queria curtir o som no escuro. Queria desafinar no repeat junto com Isaac Slade. “Everyone knows I'm in
over my head, over my head”. Queria curtir a lembrança de tudo que tinha acontecido lá atrás. Ficou nostálgico. Foi dormir sentindo saudades daqueles tempos que não voltam mais.
Ela colocou um CD do “Radiohead”. Jogou a pastinha longe, tirou o casaco pesado mais que lhe dava um ar de mais velha e tirou a maquiagem. Esquentou um sanduíche no microondas, tomou uma soda e comeu uma caixa inteira de Especialidades da Nestlé. Chorou no repeat junto com Thom Yorke. “For minutes there, I lost my self... I lost myself...”. Sentiu um vazio. Um oco por todas as coisas que poderiam ter sido. Ficou triste. Foi dormir se sentindo só, pois como se fosse a única capaz de sentir saudades de tempos que nunca vieram. A única capaz de sentir saudades pelos tempos que jamais virão.