31/05/2009

Certinha


Aquela menina tem vergonha de pedir desculpas, acredita? - Abaixo o café com a colherzinha pra mexer o açucar dando uma risadinha irônica. É, eu to falando sério. Aquela menina tem vergonha de pedir desculpas, até para uma de suas amigas que mais a ama. Dizendo que não faz "jogo social", que não "se humilha para os inferiores". Uma pausa aí. Quem é inferior a quem neste mundo? Ela se acha a melhor? Ela se acha a mais bonita? Ela acha que é o Barack Obama, que é o Lula, que é a puta que pariu? Coitadinha dela. Ela é só mais uma entre um milhão de garotas gostosinhas que tem a bunda maior que o espaço que ela ocupa no mundo e os peitos mal se aguentando no sutiã. Você é só mais uma, amiga. Um dia você vai ser como o Barack Obama, o Lula, o Papa, a puta que pariu. Vai ser o dia que você morrer, sabia? Você veio do pó e é pra lá que você vai voltar. E esteja muito satisfeita disso. E esteja muito satisfeita. Agora ela vem com essa histórinha de "humilhar para os inferiores"? Quem é inferior a ela? Eu? A faxineira do colégio? minha mãe? minha avó? minha irmã? minha família? meu ex? suas amigas? seus professores? Quem? Quem? Quem é inferior a ela? Ou melhor, quem é superior a ela? Existe alguém "mais" que os outros aqui nesta Terra? Acho que não hein.
Coitadinha da garota, ela é só mais uma gostosinha sem cérebro. E tá se achando, tá se achando a sabe-tudo-do-momento. E tá se achando a última coca do deserto. E tá se achando que é superior à Deus e ao mundo. Coitadinha da garota, mal sabe que ela é um nada nesse mundo e a existência dela é insignificante pra muita, mais muita gente. E ela fica lá, pousando de gatona. Achando que todos os garotos da cidade querem comê-la. Ainda bem que existem - poucos mas existem - meninos com cérebro nesta cidade.
Dizendo ela que é minha amiga, que faz o que faz pela "amizade". Possivelmente meu conceito de amizade então está bem errado. Eu achava que amizade era compartilhar tristezas, alegrias, emoções, coisas boas e ruins. Era ajudar uns aos outros e estar do lado. É amar. Amar. Entendeu? A-M-A-R. Aí essa gostosinha chega e me mostra que amizade não é isso, ou não é parte disso. Ela diz que amizade é só balada, só alegrias, só bebidas e vícios. Ela diz que a gente tem que ser amigo só nas horas boas e que a tristeza da outra pouco importa. E quando a outra se dar bem, ou ganha um prêmio - tipo de internet ou algo assim - ela diz que qualquer um conseguiria e tenta espalhar para todos os outros que eu trapaceei no resultado ou qualquer coisa do gênero. Tipo inveja, entende? I-N-V-E-J-A.
Eu tô cansada de conviver com esse outro lado de amizade, que tenta mudar meu conceito mas não está nem próximo de descobrir. A gente até entende os defeitos dos outros, claro que sim, eu pelo o menos a amo. Mas não dá pra entender que "amizade" ela pressupõe. Se é que ela sabe o que é ser amigo. E ela tem vergonha de pedir desculpas, acha errado. Coitadinha.
E sabe qual é o mais engraçado disso tudo? É que eu que estou errada. É! Meus valores são os errados e os dela são certos.

Certinho, amiga. Você tá certinha, quem é a errada sou eu.

29/05/2009

As minhas letras


Acordo com 5% de melhora, as mãos ainda estão frias e a temperatura sobe um pouco mais. Já tentei remédios, médicos, mas nada parece adiantar. O aconchego é ficar o dia todo em casa, recebendo visitas de amigos e mensagens no celular de leitores amigos. Minha mãe fica falando: "Tá vendo, Rafa? você é amada! Então agora dá pra parar de ficar chorando porque isso só vai fazer você piorar!". O Alessandro e a Cléo repetem a mesma frase. Percebi mesmo quanto amor sentem por mim. Hoje de manhã entrei rapidamente no orkut pra pegar umas fotos e me deparo com um scrap de uma menina lá de Goiânia que hà séculos não falava comigo dizendo "me passa seu msn aee :D". Aquele jeito ridículo de escrever. Odeio quem escreve aAaXiIm ou que usa letras em exagero. Mas levei em conta, eu tô doente mesmo, carente e precisando desabafar. Deixei pra responder o scrap em outro momento. Quando voltei no meu scrapbook lá estava outro scrap da garota: "Add aee amoor [um profile], aqeeee eh u irmÃO dela!11!". Senti vontade de vomitar na frente do computador. Amor? quem me chama assim sem ao menos me conhecer? Amor foi terrível. É, mãe, realmente eu sou muito amada. Nem conheço o garoto - se é que ele está falando sério mesmo - e o playbas já vai me chamando de amor. Quem ele acha que é?
Não é a primeira vez que isso acontece. Sabe, no início do ano, eu era um pouco mais simpática no msn do que agora e se alguém - do qual não conheço e tal - viesse puxar papo comigo no msn usando esse tipo de grafia até que levava numa boa, deixaria fluir o papo para numa determinada hora dizer vou ali já volto e bloquiar. Agora não consigo nem suportar a foto das pessoas que escrevem assim. É um "tipo assim, gata", "putz", "se pá" a cada meia palavra.
A Cléo ontem me disse que talvez os garotos tenham medo das minhas letras, assim como tem dela, que também é blogueira e tudo mais. Medo das minhas letras, dá pra acreditar? Ela disse que eles acham que se não forem bons o suficiente , no dia seguinte iria ter um texto dela com o título “tudo o que é bom dura pouco, mas dois segundos não é rápido demais?”. Eles acham que se não forem inteligentes o suficiente durante a noite, no dia seguinte não vão escapar à critica “o que sobra dentro da calça falta dentro do cérebro”.
E conversa vai, conversa vem, ela me disse que teve um que até disse pra ela “se você for me largar, promete que me conta antes de publicar? Não queria ficar sabendo pela Internet!” E teve também, claro, o clássico: “putz, gata, você já foi logo escrevendo que adorou a noite de ontem, que está apaixonada...ficou muito fácil, perdeu a graça”.
Tem de tudo. Do cara que não sustenta namorar uma mulher que não só tem passado (existe alguém com 19 anos que não tenha passado?) como resolveu escrever um livro sobre ele, ao cara que fala “tanto texto bonito para outros caras e nenhunzinho pra mim? Não quero mais sair com você!”.
É isso então. É aí que está o problema. A Cléo disse que escrevo sobre a minha vida assim como ela, e isso causa nos machos um misto de medo “será que ela vai me expor?” com um misto de quebra de magia “ah, ela se expõe demais ali, prefiro aquela mulher muda e sem personalidade que sempre vai ser um mistério para mim”.
Entrei numa baita crise. Quase tirei meu blog do ar e tudo. Repensei a vida, repensei a morte da bezerra, aumentei a dose de calmante, vou voltar pro Kickboxing. Mas depois cheguei a uma conclusão maravilhosa e definitiva: nenhum homem, até hoje, me deu mais prazer do que escrever. Então que se danem eles.

Tropeço no tempo

Eu estou muito tempo sem escrever, peço até desculpa para os meros leitores que seguem esse mal atualizado blog. Minha vida tá uma puta confusão. O tempo tá sem tempo de ser tempo, e eu sem tempo de ser eu. O pior é que eu mal pude começar a dizer: sim, eu sou. E já fico me contradizendo falando que estou esvairando-me de mim mesmo. Difícil de entender? Mas isso é o que é, mesmo que inexplicável. Dá pra perceber que meus textos não estão tão requintados e distintos. Mais desculpas, mas o problema é que quando escrevo já não há mais pessoas nas ruas e a cidade não está mais plugada na tomada do caos. Eu que sempre preguei que ter personalidade própria é o que importa, agora fico meio abalado. Mas, nem sei o que está acontecendo, acho que é mais uma daquelas fases de transição, quando algo vai mudar – e no caso esse algo sou eu. Mas, às vezes nem é isso. É bem capaz de ser apenas mais um curto-circuito no meu sistema. Culpa dessa vida volátil que, constantemente, se altera com abrupta facilidade. A homeostase celestial bate à minha porta, ela vem esfregar na minha cara – meio cabisbaixa – que não existe felicidade plena que não é seguida da febril tristeza. Porque a tristeza causa febre sim, ela faz com que qualquer mínima parte do corpo se entregue ao calor friorento, desajustando tudo e deixando tudo sem controle, mais do que já pode estar. Mas, esse equilíbrio tem hora que cansa, é preciso ser mais extremista, ter distúrbios mentais ou emocionais. Deixar de ser sempre mais ou menos, e pra isso o amor dá um jeito. E, de novo, o amor é a resposta. Essa saga parece mais com um funil, onde não interessa quantas infinitas voltas forem dadas, sempre vai sair pelo mesmo lugar. A homeostase eu mandei embora, pois essa chacoalhada que o amor me deu, foi o bastante pra eu deixar de pensar no tempo e começar a, realmente, aproveitá-lo. E tenho prova mais do que suficientes de que isso é verdade, Joules também.

23/05/2009

Não deixo que me deixe




Porque eu não me descanso de você? Você não me deixa fazer meus deveres, escrever meus textos, tomar meu cappuccino achocolatado e estudar física, que um dia você vai me ensinar, sem pensar em você. Não se sinta culpada, eu é que sou muito extremista. Eu sento aqui pra poder pôr em prática todas minhas idéias malucas que sempre surgem com experiências pouco notadas, mas me deparo com aquela vontade louca de te ter, de te possuir e te deixar sem graça quando eu falo – com exagerado eufemismo – o quanto você é linda. E não tem jeito, eu acabo escrevendo sobre você. Tenho que te libertar de mim e me libertar de você. Fico tentando suprir a necessidade que eu tenho de você com outros pensamentos descontraídos e banais. Mas nada me parece mais banal do que tentar te esquecer, pelo menos por um instante. Porque isso nunca dá certo, e logo eu deixo de fazer tudo só pra ouvir uma música que me faça lembrar aquele beijo proibido de hoje cedo. E antes que outros perguntem, digo logo: a gente é “sei lá o que”, por enquanto. É muito cedo pra dizer que temos algo e muito tarde pra dizer que não temos nada. Tarde demais, porque eu te quero muito. Você e esse seu jeitinho “sou morena e tô podendo”. E o pior é que você tá mesmo.

19/05/2009

Saudosismo infeliz

O aconchego da tarde de hoje me submeteu a um desejo pungente de chorar. É até engraçado quando alguém - limitado - lê isso e pensa: olha esse menino que só sabe falar de amor e de seus sentimentos sofridos. Não tem coisa melhor do que poder lavar minha alma. Minha mãe diz que chorar limpa os pulmões, e sorrir os faz mais forte. Eu até concordo e acho possível, serem os meus, os pulmões melhores do mundo. Essa minha vontade de hoje foi o acúmulo de ontem, anteontem... Eu só estava muito ocupado com minha diversão do tão bem aproveitado fim de semana. E que fim de semana! Só não foi tão bom devido à ausência da Joules e pelo infortúnio de minha música preferida não ter sido tocada pela banda de domingo. Mas, teve uma peculiar perfeição da sexta animada e cansativa, do sábado durável e do domingo que nem parecia ser domingo, sem Faustão nem Fantástico. E foi tão incrível, que essa rara felicidade, não momentânea, vai durar a semana inteira, assim espero. É claro que vai durar, porque eu vou matar a saudade da Joules. Vou dar aquele abraço gostoso, aquele beijo delirante e dar aquela olhada que a deixa tímida. Vai ser eterno. Não eterno enquanto dure, mas que eternize o que durar. E sabe aquela vontade de chorar? Me fez dormir, e eu quis esquecer, me mostrar forte. Nem pude acompanhar o sol poente, o que já virou costume. Mas foi melhor assim, ele me faria lembrar a moça presente, constantemente, nos meus sonhos. Evitei, ao máximo, não reparar meu ego abalado pela falta que você me fez. Mas nem teve jeito, eu tive a felicidade, ou infelicidade, de te contactar pela internet. E foi só contato (verbal), só e só. Não pude te ver, te tocar nem te sentir. Só me fez ter mais saudade. Mas, amanhã eu vou te ver. Não vai ter mais saudade nem ausência. A lágrima vai ser evitada e meu ego vai continuar abalado. Mas a felicidade, essa vai durar. Não enquanto eterno, mas enquanto você me abraçar, me beijar e me olhar.

13/05/2009

Dito mundo

Fim do mundo. Não é mais um “texto clichê” sobre catástrofes, argumentos bíblicos, previsão maia, nem nada do tipo. É algo intrínseco as nossas mãos, nossas próprias mãos. E que me desculpe os maias, os cientistas, mas nós somos os verdadeiros protagonistas desse filme P&B Europeu. Desconsiderando prés e prós, a situação em questão não deve ser discutida a partir de uma visão religiosa, científica, e muito menos ficcional. Nossa realidade vai além de beijos técnicos ou mocinhos com cabelo emprastado de gel e com bochecha rosada, mesmo que nesse lugar – dito mundo – a maioria saiba atuar muito bem, obedecendo ao que está no roteiro de uma modinha contemporânea ou de uma ideologia sem pé nem cabeça. A humanidade – sem humanidade – está vivendo em absoluta falta de sincronia. E isso, quando entendido como um fenômeno evolucionário em que o individualismo se torna culminante a qualquer tipo de movimento sensível e humano, pode ser apontada como uma das maiores razões causadoras dos conflitos de interesses entre nações, religiões, preferências sexuais e relacionamentos. O mundo é equacional, tudo que está fora da ordem, está em função dessa assincronia multipolarizadora da desumanidade que é inversamente proporcional à solidariedade e ao favorecimento universal. E nesse umbigocentrismo todo, cada um faz o que quer, do jeito que quer, na hora que quer. O Homo assincronicus assim se revela no momento em que, graças a essa (triste) evolução, mostra que para ele o que vale é a realização do seu querer individual. Poucos são aqueles que conjugam seus quereres com o outro, ou até os ainda mais raros, que fazem dos quereres do outro, quereres seus. Em nome da realização de um querer instantâneo o Homo assincronicus abstrai, e por vezes até desrespeita, a vontade do outro. O qual não necessariamente se encontra no mesmo estágio evolucionário da espécie.A população mundial deve ser formada, hoje, por 97% de Homo assincronicus. O que faz dos míseros 3%, os Homo sincronicus, uma espécie em extinção. É como se essas duas espécies habitassem universos paralelos de uma realidade compartilhada. Como se fossem extremos opostos, inconfundivelmente, água e óleo. No mundo assincrônico (que é formado por vários micromundos), ninguém ama ninguém. Só a si próprio. Todos são deuses supremos de seus micromundos. Déspotas de suas monarquias sem súditos. Esse caos sincronizado se dá pela falta do que realmente vale a pena, aqui e agora. O homem nasceu pra ser livre, ter a liberdade de fazer o que bem entender e sentir o que quiser. O problema é se deixar levar por essas opressões de sentimentos, que acabam sendo omitidos. Nesse universo – que é mundo sim – desperdiçamos tão banalmente cada oportunidade de realmente ser e não apenas ter, porque nós nos esquecemos de valorizar o que somos, sempre que damos valor só ao que temos. É preciso amar mais. Deixar de ser apenas um ser humano pra poder “ser1mano”.



Viuller Bernardo, Rafaella Smith

Leia meus textos, vai.


A ideia de hoje foi te pedir um favor. Eu escolheria algum texto meu que gosto muito e você leria pra mim. Sem oi, sem tchau, sem coisas feitas ou a fazer. Nada de você, nada da sua vida. Nada que constate a sua existência independente. Apenas a sua voz. Esse é só um dos absurdos que passam pela minha cabeça quando me salta você no peito. Como se meu coração fosse uma dessas caixinhas surpresas e você o boneco de mola pra assustar crianças. Elas se assustam mas riem e abrem de novo e de novo.
Acabei de ver Santiago, o documentário, e tive um acesso de choro daqueles. Ele escreveu sobre toda a aristocracia do mundo e isso arrasou comigo, amor. Arrasou. Ele era o garçom das festas, que você chorava. Uma pessoa que servia feliz a uma beleza triste. E no final, não sei se você viu o filme, mas ele quis contar algo pessoal e apressaram ele, cortaram, o que ele realmente queria dizer não tinha importância. E quase, quase quis te pedir um favor. Mais uma das minhas ideias. Pra você, por alguns minutos, só enquanto eu chorava demais, pra você fazer de conta que abismos não existem. E não existem mesmo, nesses segundos descabidos das horas que não entram no dia. Porque agora, nesse segundo que corri aqui pra te escrever, nesse momento não existe essa coisa de dia e de dois meses exatos. Existe só que vamos todos morrer então pra que mesmo o orgulho de sair ileso mais um dia. Mais um dia ileso. Como se não fosse cheios de feridas que raspamos com as costas das mãos as nossas roupas de guerra e dormimos em paz.
Outro dia tive uma ideia. A cada doze dias, perto das onze horas da noite, eu chegaria sem dizer nada e você também não poderia dizer nada. E então a gente ficaria junto. E aqui não tem nada de erótico não, é bonito isso que eu quero dizer. E depois acabava mesmo. E a cada doze dias de novo. E isso seria um contrato já que meu doentinho daqui da cabeça quer tanto. Pro resto da vida. E tudo bem pra você, vai. Sim, seria um contrato, mas olha que maravilha os outros doze dias sem nada. E seria só por algumas horas perto do meu perfume da Britney que você vai gostar, tenho certeza. Então, tudo bem. Acho que você assinaria.
Hoje eu estava estudando Termodinâmica e fazendo cálculos mas explicando como se faz no rodapé da página do meu caderno, daí vi que é isso que faço melhor do que ninguém. São tantas as coisas que eu queria te falar e contar. E eu sigo fantasiando que você entende tudo e melhor que todo mundo. E isso acaba comigo mas, ao mesmo tempo, me tira um pouco da chatice burra e apática de sempre. E então, me vem a ideia de realmente te contar as coisas. E por isso escrevo. Porque se você entra aqui pra ler é você que, com todo o meu amor que você nem imagina, consegue sentir como sendo seu. E então é mesmo essa coisa maluca de eu me livrar do que eu nem sei se sinto pra você, sem nem saber se sente, sentir o que já estava aí esse tempo todo. A troca do absurdo. Nisso trocamos. O absurdo.
Hoje eu perguntei a um amigo. Você era feliz com ela? E ele disse: eu era muito feliz com ela. E muito triste. Sem ela eu não sou nem uma coisa e nem outra. Eu sorri e disse pra ele: eu prefiro a vida assim. Ele disse: prefere mesmo? Eu disse, comendo um pão de queijo: não, não prefiro, mas pelo menos, assim, eu consigo estar aqui com você pesando mais de cinquenta kilos.
São, sei lá, duas e pouco da manhã. Passo boa parte de tudo sem doer, sem sentir tão forte. Às vezes nem parece que aconteceu. Mas o tempo todo, ainda, converso e te mostro tudo, o tempo todo. O tempo todo. O tempo todo. Não porque sou sozinha. Não porque era menos sozinha com você. Apenas porque apenas.
Lê pra mim meus textos. Com a luz apagada. E gosto de você além da minha imaginação, não porque aprendi a gostar, mas porque por mais que eu sonhe, você é ainda melhor que o sonho. Você é além da minha capacidade em te imaginar.
Mas é isso. Um filme com o maluco do fraque e das castanholas me emociona e pronto. O boneco salta da caixinha e espanca meu peito com cabeçadas duras e olhar macabro. A hora que não entra no dia. E eu mais uma vez preferindo não sair ilesa pra me sentir menos machucada.
Você pode, ler meus textos todos os dias, brincar do não abismo, qualquer coisa, só ler, mantendo a ética profissional, ser apenas meu professor e eu sua aluna e, só me ler, mas não me esquece, por favor. Eu nunca vou esquecer você. Eu não soube o que fazer com você, mas sei o que fazer com o não você. Isso eu sei fazer e faço bem. Lembrar que era terrível e incrível. Terrível, meu amor, como poucas (ou nenhuma) coisas foram. Mas absolutamente incrível.

11/05/2009

Numericamente exausto


Meu Deus, que tédio. Não agüento mais, estou ficando estressado. Minha agenda de afazeres não me dá descanso. Tenho que estar sempre fazendo alguma coisa produtiva com aquela pilha de livros didáticos que eu nem mesmo leio a metade da metade. Há tantos anos que venho acordando antes do sol dar as caras por aí. Gasto a metade do dia aprendendo. Mas aprendendo o que? Que diabos eu vou querer saber sobre a trajetória de um objeto em velocidade constante, aceleração nula, gravidade comum, de pressão 10atm a 26 ºC e abaixo do nível do mar? Recupere o fôlego! Sendo que eu nunca vou desprezar a resistência do ar ou considerar que estou no vácuo. Essa minha vida já está muito cheia de incógnitas misteriosas e indeterminadas. Como se pode aprender essas babaquices ditas “exatas”? Se pra fazer um cálculo tenho que considerar até se meu vizinho tem se alimentado bem ultimamente, consumido bastante carboidrato. Tem gente (pirada) que gosta. Eu não. Eu não quero saber nada dessas suposições fúteis. É muito “imaginar” e “supor” pro meu gosto. Fugir da realidade, eu já fujo há muito tempo pra poder esquecer as hipocrisias humanas. Preciso de um transe corporal, um coma induzido. Não por mim. Numericamente induzido pelo cansaço. Tem um desejo que me toma sempre que percebo minha fraqueza por tarefas coercitivas desse mundo. Sempre que eu passo noites em claro pra recuperar minha nota em matemática ou sempre que deixo de escrever o que há de mais belo nessa vida. Vou abandonar toda essa regularidade dos dias monótonos e cansativos. Eu vou à praia. Pegar altas ondas, mesmo que eu nem saiba boiar na água. Cantarei Plain White T’s misturado com Jack Johnson ao redor de uma fogueira, enrolado num cobertor meio sujo de marshmellow. Ao sol nascente, sentarei na areia gelada, descalçarei minhas Havaianas (as legítimas) e escreverei ao ritmo das ondas do mar. E a sua melancolia há de me desestressar.

10/05/2009

Felicidade Realista.


Nas primeiras vistas tudo é encantador. Os motivos para valorizá-lo são esbanjados em uma freqüência de hora suficientemente capaz de burlar qualquer sistema de autodefesa que dolorosamente se formaram em quinze anos. E eu nem percebo. Eu abandono a certeza de que perfeição inexiste. Uma sutil ameaça de esperança surge no íntimo e eu sinto uma absurda vontade de apostar o que sobrou das fichas. Mas eu fico quieta. A gente sempre levanta com certo receio de desabar de novo. Mas nós, as pessoas, somos renitentes. E eu não uso esse argumento como desculpa de ter como fulcro a leve em exagero dinâmica estrutural do psíquico humano. Ao contrário, tudo o que falo é tentando não coibir minhas emoções. Inapelavelmente a realidade é essa. Eu sei que esta cautela não dura mais que algumas horas se o beijo for bom. Se o cheiro for bom. E, se ele me fizer gargalhar até a barriga doer então... Vai toda a casca de proteção por roupa abaixo. Esse pensamento me apavora. Porque eu já sou uma garota cansada, o que eu faço? Acabei de tirar as fraldas e já estou cansada. Arquitetar planos e depois me ver obrigada a anulá-los rouba, covardemente, energia. Imaginem fazer isso em ritmo frenético, sem intervalos. Sim, estou ficando sem forças.
Eu já me sinto lúgubre antes mesmo da próxima queda. Eu havia combinado comigo que dessa vez seria diferente, dessa vez eu não permitiria nascer encantamento por ninguém. Mas o novato começa bem – e eu não acho que isso seja bom – que fique claro - me busca em casa oito da noite. Senta no sofá da minha casa, faz um elogio à minha mãe e, em instantes está intimo da família inteira. Consegue até virar ídolo da minha irmã caçula. Ele prepara o jantar, escolhe o filme e sabe me deixar à vontade em seu apartamento de solteiro. O perfume dele está em mim desde a noite de ontem e eu fico feliz por ter conhecido uma pessoa que se banca sozinha.A lugubridade se deve à continuação do primeiro raciocínio do texto, o pensamento que me fez sentar aqui mais uma vez. Este moço começou bem como tantos outros. E não aconteceu nada que me fizesse acreditar que com ele seria diferente. Daqui a uma semana os defeitos já são tantos que é mais lucrativo tentar a sorte com um homem novo. Para os que estão me achando pessimista quero contar que essa história de viver atropelando tudo, sem medo e sem cuidado para mim já basta. O mosaico da minha alma que o diga.
Eu analiso friamente o perfil do novo alistado. Na casa dos 20 anos, recém formado, sorriso colgate, cabelos louros, lisos e, facilmente encontrado qualquer dia da semana em uma boate da cidade. Não, não é para o meu bico. Pela conversa fui capaz de perceber a alma do garotão que acha que curtir a vida é testar semanalmente o poder de conquista. Cair repetidas vezes no mesmo buraco não combina com a pessoa inteligente que tento ser.
Eu sinto sede. Não tenho água. E essa sede não se restringe somente a saliva. É sede de carne, espírito, coração. Eu tenho sede até dos problemas dele, tamanha é a vontade de ter alguém que valha a pena. Aproveitando o espaço para dizer que troco cinco moleques por um homem, quem se interessar entre em contato.

07/05/2009

As coisas como mudam


Eu ainda não sei aonde a gente vai. Se àquele restaurante que serve Orfoff com gelo que você amava tanto ou àquela festinha nos sábados a tarde, como era mesmo o nome? For Friends, isso! Sim, foi há milênios atrás. Só sei que vou estar bem nervosa quando você parar na frente de casa para me apanhar. Vejo você descendo do carro para me dar aquele “oi” mais acalorado das pessoas que não se veem há muito tempo, especialmente aquelas, que já tiveram alguma (boa) intimidade, mas que ficaram por eras afastados um do outro. Já quase me vejo pensando numa gracinha qualquer para quebrar o gelo daquele primeiro beijinho no rosto e daquele abraço demorado - que eu vou interromper para entrar no carro antes de você perceber que meu coração está feito repique de escola de samba. Ainda não sei sobre o que vai ser o começo da nossa conversa.
Se sobre a crise econômica mundial ou sobre o novo filme do Woody Allen.
Mas eu acho que você vai falar mais do que eu. Dessa vez. Porque você é outro, eu sou outra, o presidente dos Estados Unidos é outro, enfim, a vida mudou muito desde aquele último gin-tônica.
Eu acho que tudo que você me disser vai me interessar. Ainda mais depois de meses sem que eu tenha prestado real atenção em alguém - mesmo que tentasse convencer a mim mesma, o tempo todo, que os assuntos deles me interessavam.
Num dado momento, vai até parecer que você quer se abrir, mas que tem medo, e que prefere esperar mais para entrar nos detalhes mais íntimos da sua vida num tempo em que a ela eu não pertencia mais. Certo você! Eu também vou preferir ficar na minha quando o assunto for o meu último relacionamento ou o fato de eu ainda escrever até hoje, sendo que você já mudou até de religião (sim, porque agora, eu descobrirei, você tem uma!).
Eu vou te achar um cara bem mais centrado, melhor resolvido, senhor de si e, bom, senhor de mim, naturalmente. Só que você não vai saber disso. É que eu vou fingir que não estou me derretendo por você, mesmo que, no fundo - e antes da gente ter dançado juntos - o meu sangue esteja correndo sob temperaturas venusianas.
Mas como você é outro, eu sou outra, o presidente dos Estados Unidos é outro, o título que o Santos ganhou é outro, enfim, como a vida mudou muito desde aquele último gin-tônica, eu não vou transparecer essa situação tão pessoal do meu sistema circulatório. E você vai ficar surpreso porque vai me achar tão tranquila e vai pensar que puxa, eu não era assim. Vai se lembrar de que achava até meio charmosinho o fato de que às vezes eu falava tão rápido quanto um locutor de corrida de cavalos. Mas ali, não. Porque eu vou falar devagar. Vou até evitar de dançar músicas mais quentes e que remexem mais, bem sossegada, enquanto você me serve mais um copo de Merlot e dá aquela dançadinha, como é o nome? Rebolation. Sim, algo me diz que depois a gente vai acabar indo tomar aquele milkshake que você adora. E que eu continuei a tomar por todos esses meses.
Se vamos falar do lugar? Só se você puxar a conversa para testar os meus conhecimentos visuais e para me agradar, é claro. Sim, você vai querer me agradar. Especialmente quando começar a achar que eu estou muito na minha para quem não te via há tanto tempo.
Daí o papo fluirá naturalmente para músicas e filmes. É, pensando bem, vai ser inevitável que falemos sobre o novo filme de Woody Allen. Passaremos rapidamente por assuntos Obâmicos, faremos referência à fusão de bancos, à sapatada no George Bush, à guerra na faixa de Gaza, à iminência do fim do mundo em decorrência do funcionamento do Grande Colisor de Hádrons e, é claro, à crise econômica global. Não esquecendo também de falar sobre a derrota do Palmeiras sobre o seu time, Santos, e sobre a derrota do meu time, São Paulo, sob o Corinthians (que por sinal, é o time do garoto que eu gosto, gostar não, gostar é meio ralo, mas não há outra palavra que defina). Aí você vai fazer aquela cara de cachorrinho sem dono e vai querer mais um milkshake.
Quando eu começar a contar sobre o livro que vão me patrocinar p/ escrever, você, sem dizer nada, vai se lembrar de como me achava romântica. Vai se lembrar da primeira carta que fiz pra você numa noite em que - você nem faz idéia - eu tive medo, de tão feliz que me senti. Você vai se lembrar de que, todas as vezes que nos falávamos por telefone, falávamos juntos, nunca dando o timing certo da espera da fala do outro, e que você achava isso irritantemente engraçado.
Mas de repente, enquanto eu estiver articulando as palavras no meio da entorpecimento dos goles de Ovomaltine e da sua presença quase insólita na minha frente, mil perguntas aporrinharão meu cérebro – mesmo eu percebendo que não é a hora para você revelar os tais detalhes íntimos. E eu vou te achar tão perfeito para mim, de novo, que vou começar a pensar: Será que um dia você chegará a me conhecer direito? A verdadeira eu? Essa, que dorme com a cachorra na cama e anda com um livro na bolsa o dia inteiro? Será que algum dia eu vou conhecer seus segredos, aqueles desprezíveis e ordinários? Porque não é possível que você não tenha algum, apesar dessa sua cara de banho. Será que algum dia você chegou a saber quem eu fui de verdade enquanto estávamos meio juntos? Será que estivemos mesmo meio juntos? Será que você precisa saber de alguma coisa minha que já não esteja à mostra? Será que adianta fingir que sabia de alguma coisa? Será que eu quero saber de um outro você que não esse aqui?
Para ser sincera, talvez, hoje, você nem caiba mais na minha vida. Porque sim, foi tudo meio lindo, mas meio triste também, não? Meio abortado. Meio sem começo, sem meio, sem fim. Metade de alguma coisa. E de repente, eu não acredito mais em nada. Não retorno suas mensagens. Justamente porque você é outro, eu sou outra, o presidente dos Estados Unidos é outro e a vida, meu caro, mudou muito desde aquele último gin-tônica.

06/05/2009

Mais do que física

Acho que estou doente. Venho sentindo sintomas notáveis. Não sei do que se trata. Nem mesmo se isso se trata, sou leigo quanto a patologias distintas do cotidiano. Só sei que sinto. Sinto um calafrio que apesar de frio me faz queimar por dentro. Vejo minhas pernas de tão bobas, se esquecerem da rigidez inesquecível. E minha fala abandonar-me, deixando apenas a impressão de que estou prestes a ter um colapso de ansiedade. O pior é que, subitamente, todas as minhas idéias (falas), a muito ensaiadas, se embranquecem. Mas sem nenhuma reação emergencial em mente, recorro à omissão. Fico ali, parado. Imóvel, viro uma estátua grega: pálida e sólida. Isso é diferente de qualquer outra coisa. E meu espelho, cansado de ser usado para encenações atordoadas com frases sinceras e evidentes, pode comprovar isso. Mas me parece que nesses momentos, tudo é bloqueado por uma áurea pura e um juízo decente. É a hora em que meu vazio saudoso é preenchido pela sua presença. Eh! Sua, só sua. É você, você é isso. Isso que eu sinto. É por você que tenho calafrios, pernas bambas e colapsos de ansiedade. É como se a sua presença me fizesse esquecer a sua ausência dos fins de semana anteriores. E se a sua timidez desinibida espantasse a minha segurança abalada. Não há nada de patológico em você, só há excelência. Seus defeitos são apenas pretextos da sua perfeição. E eu acho tão único, tão singular quando tenho seu semblante aqui, junto do meu. Fico admirando seus olhos brilhando, desinteressados por pessoas que ali passam e por coisas vãs. Mas aí, você percebe meu queixo caído, eu elogio seu cabelo preso que me faz pirar e sua timidez a deixa corada. Então, eu tento te aconchegar em meu ser, e sem precisar de palavras, digo: estou na sua. Só que quando estamos juntos o relógio parece se revoltar com a exatidão dos segundos. Tão de repente – como antes quando te senti mais perto pela primeira vez – você se vai. Aí, de novo você me lembra do infortunado saudosismo. Fico te mandando depoimentos sem esperar resposta. Não acho ruim, entendo. Qualquer tipo de angústia se vai porque eu sei que mesmo que você os apague, não os esquece. Eu te ligo e você está acompanhada por seu pai – dito bravo por outrem – e eu não sei o que falar, fico bobo. Quando desligo o telefone, me condeno por não ter assuntos suficientes pra te entreter. Você me desconcentra. Só depois de um tempo, conformado, vou escrever o que vem na cabeça, só pra dar um tempo de você. Mas o que eu penso não é sobre crise mundial ou gripe suína. Não sou intelectual, muito menos culto. Deixo que os críticos façam seu trabalho, enquanto eu fico aqui escrevendo sobre você. Sem precoces conclusões, não escrevo sobre o amor. E sim, sobre seu jeito de abalar minha estrutura e conseguir me prender a você. Porque por você eu me deixei levar pelo sentimentalismo escasso desse mundo, mas abundante em mim. E nem a minha escassez de assuntos e a sua abundância de timidez me deixam inseguro. Não interessa o silêncio ou sua cara corada. Pois só você que me deixa de queixo caído, Joules.

04/05/2009

Castigo meu!

Vou me despedir e acabo logo com isso. Tá todo mundo me olhando. E que raio de jeito eu arrumo pra essa maldita lágrima não borrar minha maquiagem. Nem cuspe eu tenho pra engolir… É eu to sentindo uma febre me queimando no peito.
Eles estão me acenando um adeus que nem sabem que é adeus pra sempre mesmo. Bato um adeus com a mão no ar, que controle foi embora, minha boca treme o que era pra ser um sorriso. Mas é uma baita duma careta, aposto! E não é que os dois estão cantando a maldita música que tanto me amo! Aquela do Oasis - Champagne Supernova - mas agora… minha nossa… até parece prece no entardecer, parece mesmo a hora da Ave Maria… Por que será essa musiquinha misturado com esse momento virou oração? E não é que até o céu parece eu, triste e cinza, vontade de chorar.
O povo todo me olha todinha. Tremo na carne; o avião se vai e eu rodo em meu corpo fraquinho que preciso ir embora. Nada de avião sumindo pra sempre, senão não vejo mais a face deles, a solidão eu boto guardo na caixa de jóias que ganhei no lugar do ovo de páscoa Xoquito que eu tanto queria…. Mas mulher pode chorar e já não ligo se a tal lágrima descer... tá com jeito de chuva mesmo. Ou então eu to suando e… chega! Vou cantar, mas só sei de decorado a tal musiquinha do Oasis. Mas mulher menina canta. Minha voz é fraca, mas sai tudinho num ritmo certo, parece rádio que repete a mesma música sempre…
Agora complica-se um pouco mais: parece oração de romaria que os padres do Colégio São Francisco fazem - ou pelo o menos faziam - ou coral de fim de ano. Ou eu também fiquei louca ou será toda a voz do povo a me acompanhar nesse meu canto emprestado das duas, as minhas abelhinhas sem memória. Cai lágrima, não sei mesmo te secar, nem nada da vida! Tão mesmo cantando? Se olhar pra trás eu vou saber… mas que me importa isso agora? De certo o céu não caiu e nem o mundo acabou. Elas ficam bem. Vou-me embora. Não vou mais cismar senão esqueço a canção do Oasis.

Yes, we can

Hoje eu acordei com um desejo. Desejei poder fazer algo a mais. Algo além de mim. Não me bastava ser apenas mais um. Queria extravasar, me deixar levar. Pra me acabar, e acabar com minha previsível mediocridade. Queria me desfazer de um tédio irritante que insiste em perseguir-me onde quer que eu esteja. Onde quer que eu me esconda. Queria me desfazer da raiva que me consome quando meu vizinho não me deixa dormir com decibéis exagerados. Ou mesmo quando tenho infinitas tarefas de caixote, e minha cama me acorrenta pra mais um sono gostoso e aconchegante em mais uma tarde gostosa e aconchegante. E eu durmo, eu sonho. Eu quero mudar, mudar pra melhor. Mudar-me. Fugir pra longe, fugir de tudo. Fernando de Noronha talvez. Ou Etiópia quem sabe, posso ser mais Eu lá, do que Eu cá. Lutar capoeira com os bravos e fortes. Dançar no gingado das mulatas com seus dreads livres, leves, soltos. Quero poder me trancar no quarto, apagar a luz, e deitado, me enrolar na colcha feita pela amada avó e então ouvir baixinho Jack Johnson, ao som do violão, me dizer que amor é a resposta. Claro, amor é a resposta, pelo menos para a maioria das questões do meu coração. Eu tenho que amar mais. Ser mais amor. Eu sou amor. Mas que amor é esse? Se me tranco com o tal amor no quarto, apago minha juventude, e deitado, me enrolo na solidão e ouço baixinho minha consciência me pesar. Eu não sei amar! Meu amor é avarento, egoísta. Estou me deixando levar pelas ideologias anti-sentimentalistas do mundo globalizado e até por promessas ocas de políticos ocos. Só o Obama que salva. Será mesmo? Eu já nem acredito mais que Papai Noel, coelho da páscoa e Power Ranger existam. Putz! A indústria cultural é convincente. Edifica fãs que veneram ídolos que nem mesmo existem. E somos aptos a aceitar, tranquilamente, cada logro transmitido no intervalo da novela das oito (das nove). Isso me faz voltar a acreditar em lobo mal e bicho papão. Estou rodeado deles. Estou com medo deles. Estou com medo da minha mediocridade, do tédio, da raiva e das minhas tarefas de caixote. Eu sei que enquanto aqui escrevo, pessoas matam, pessoas morrem. Não agüento, preciso mudar isso. Posso ser apenas uma página de um conto de fadas, por exemplo. Mas talvez sem mim, o “felizes” não anteceda o “para sempre”. Estou acostumado com essa coisa de me cobrar demais, já virou hábito. Sou ariano, gosto de liderança e desafios. Talvez os astros sejam mais exatos que essa minha certeza de que eu posso ser alguém além de mim. Sou anti-egocentrismo. Meu irmão não. Ele se sente a “rapinha” do chocolate que sobrou na vasilha da sobremesa. Isso só porque freqüenta a academia da esquina e mal consegue respirar com sua regatinha apertada. Ele, como a maioria, é capacho das modinhas. Iludido por padrões de beleza levianos. Queria consertar isso também. Essa coisa de que tenho que ser como todos estimam. Desprezo o senso comum. Pra mim, estar na moda é ser comum. Pior, é ser subserviente do consumismo ordinário. Não sou o que tenho. Também quase nem tenho. Pouco me importa. Sou rico. Rico de bens culminantes ao material. Sem necessidade de citá-los, apenas os refiro em termos precedentes. Isso basta. Estou sem tempo de descrever-me e também um pouco de preguiça, assumo. Mas antecipo: estou em busca da felicidade plena. Mesmo abominado e inconformado com toda essa desordem, preciso me desfazer desses pensamentos funestos pra que eu possa me curar desse infortúnio. Quero viver. Quero dreads fora de moda. Quero ser livre, leve, solto.