29/05/2009

As minhas letras


Acordo com 5% de melhora, as mãos ainda estão frias e a temperatura sobe um pouco mais. Já tentei remédios, médicos, mas nada parece adiantar. O aconchego é ficar o dia todo em casa, recebendo visitas de amigos e mensagens no celular de leitores amigos. Minha mãe fica falando: "Tá vendo, Rafa? você é amada! Então agora dá pra parar de ficar chorando porque isso só vai fazer você piorar!". O Alessandro e a Cléo repetem a mesma frase. Percebi mesmo quanto amor sentem por mim. Hoje de manhã entrei rapidamente no orkut pra pegar umas fotos e me deparo com um scrap de uma menina lá de Goiânia que hà séculos não falava comigo dizendo "me passa seu msn aee :D". Aquele jeito ridículo de escrever. Odeio quem escreve aAaXiIm ou que usa letras em exagero. Mas levei em conta, eu tô doente mesmo, carente e precisando desabafar. Deixei pra responder o scrap em outro momento. Quando voltei no meu scrapbook lá estava outro scrap da garota: "Add aee amoor [um profile], aqeeee eh u irmÃO dela!11!". Senti vontade de vomitar na frente do computador. Amor? quem me chama assim sem ao menos me conhecer? Amor foi terrível. É, mãe, realmente eu sou muito amada. Nem conheço o garoto - se é que ele está falando sério mesmo - e o playbas já vai me chamando de amor. Quem ele acha que é?
Não é a primeira vez que isso acontece. Sabe, no início do ano, eu era um pouco mais simpática no msn do que agora e se alguém - do qual não conheço e tal - viesse puxar papo comigo no msn usando esse tipo de grafia até que levava numa boa, deixaria fluir o papo para numa determinada hora dizer vou ali já volto e bloquiar. Agora não consigo nem suportar a foto das pessoas que escrevem assim. É um "tipo assim, gata", "putz", "se pá" a cada meia palavra.
A Cléo ontem me disse que talvez os garotos tenham medo das minhas letras, assim como tem dela, que também é blogueira e tudo mais. Medo das minhas letras, dá pra acreditar? Ela disse que eles acham que se não forem bons o suficiente , no dia seguinte iria ter um texto dela com o título “tudo o que é bom dura pouco, mas dois segundos não é rápido demais?”. Eles acham que se não forem inteligentes o suficiente durante a noite, no dia seguinte não vão escapar à critica “o que sobra dentro da calça falta dentro do cérebro”.
E conversa vai, conversa vem, ela me disse que teve um que até disse pra ela “se você for me largar, promete que me conta antes de publicar? Não queria ficar sabendo pela Internet!” E teve também, claro, o clássico: “putz, gata, você já foi logo escrevendo que adorou a noite de ontem, que está apaixonada...ficou muito fácil, perdeu a graça”.
Tem de tudo. Do cara que não sustenta namorar uma mulher que não só tem passado (existe alguém com 19 anos que não tenha passado?) como resolveu escrever um livro sobre ele, ao cara que fala “tanto texto bonito para outros caras e nenhunzinho pra mim? Não quero mais sair com você!”.
É isso então. É aí que está o problema. A Cléo disse que escrevo sobre a minha vida assim como ela, e isso causa nos machos um misto de medo “será que ela vai me expor?” com um misto de quebra de magia “ah, ela se expõe demais ali, prefiro aquela mulher muda e sem personalidade que sempre vai ser um mistério para mim”.
Entrei numa baita crise. Quase tirei meu blog do ar e tudo. Repensei a vida, repensei a morte da bezerra, aumentei a dose de calmante, vou voltar pro Kickboxing. Mas depois cheguei a uma conclusão maravilhosa e definitiva: nenhum homem, até hoje, me deu mais prazer do que escrever. Então que se danem eles.