04/05/2009

Yes, we can

Hoje eu acordei com um desejo. Desejei poder fazer algo a mais. Algo além de mim. Não me bastava ser apenas mais um. Queria extravasar, me deixar levar. Pra me acabar, e acabar com minha previsível mediocridade. Queria me desfazer de um tédio irritante que insiste em perseguir-me onde quer que eu esteja. Onde quer que eu me esconda. Queria me desfazer da raiva que me consome quando meu vizinho não me deixa dormir com decibéis exagerados. Ou mesmo quando tenho infinitas tarefas de caixote, e minha cama me acorrenta pra mais um sono gostoso e aconchegante em mais uma tarde gostosa e aconchegante. E eu durmo, eu sonho. Eu quero mudar, mudar pra melhor. Mudar-me. Fugir pra longe, fugir de tudo. Fernando de Noronha talvez. Ou Etiópia quem sabe, posso ser mais Eu lá, do que Eu cá. Lutar capoeira com os bravos e fortes. Dançar no gingado das mulatas com seus dreads livres, leves, soltos. Quero poder me trancar no quarto, apagar a luz, e deitado, me enrolar na colcha feita pela amada avó e então ouvir baixinho Jack Johnson, ao som do violão, me dizer que amor é a resposta. Claro, amor é a resposta, pelo menos para a maioria das questões do meu coração. Eu tenho que amar mais. Ser mais amor. Eu sou amor. Mas que amor é esse? Se me tranco com o tal amor no quarto, apago minha juventude, e deitado, me enrolo na solidão e ouço baixinho minha consciência me pesar. Eu não sei amar! Meu amor é avarento, egoísta. Estou me deixando levar pelas ideologias anti-sentimentalistas do mundo globalizado e até por promessas ocas de políticos ocos. Só o Obama que salva. Será mesmo? Eu já nem acredito mais que Papai Noel, coelho da páscoa e Power Ranger existam. Putz! A indústria cultural é convincente. Edifica fãs que veneram ídolos que nem mesmo existem. E somos aptos a aceitar, tranquilamente, cada logro transmitido no intervalo da novela das oito (das nove). Isso me faz voltar a acreditar em lobo mal e bicho papão. Estou rodeado deles. Estou com medo deles. Estou com medo da minha mediocridade, do tédio, da raiva e das minhas tarefas de caixote. Eu sei que enquanto aqui escrevo, pessoas matam, pessoas morrem. Não agüento, preciso mudar isso. Posso ser apenas uma página de um conto de fadas, por exemplo. Mas talvez sem mim, o “felizes” não anteceda o “para sempre”. Estou acostumado com essa coisa de me cobrar demais, já virou hábito. Sou ariano, gosto de liderança e desafios. Talvez os astros sejam mais exatos que essa minha certeza de que eu posso ser alguém além de mim. Sou anti-egocentrismo. Meu irmão não. Ele se sente a “rapinha” do chocolate que sobrou na vasilha da sobremesa. Isso só porque freqüenta a academia da esquina e mal consegue respirar com sua regatinha apertada. Ele, como a maioria, é capacho das modinhas. Iludido por padrões de beleza levianos. Queria consertar isso também. Essa coisa de que tenho que ser como todos estimam. Desprezo o senso comum. Pra mim, estar na moda é ser comum. Pior, é ser subserviente do consumismo ordinário. Não sou o que tenho. Também quase nem tenho. Pouco me importa. Sou rico. Rico de bens culminantes ao material. Sem necessidade de citá-los, apenas os refiro em termos precedentes. Isso basta. Estou sem tempo de descrever-me e também um pouco de preguiça, assumo. Mas antecipo: estou em busca da felicidade plena. Mesmo abominado e inconformado com toda essa desordem, preciso me desfazer desses pensamentos funestos pra que eu possa me curar desse infortúnio. Quero viver. Quero dreads fora de moda. Quero ser livre, leve, solto.