06/05/2009

Mais do que física

Acho que estou doente. Venho sentindo sintomas notáveis. Não sei do que se trata. Nem mesmo se isso se trata, sou leigo quanto a patologias distintas do cotidiano. Só sei que sinto. Sinto um calafrio que apesar de frio me faz queimar por dentro. Vejo minhas pernas de tão bobas, se esquecerem da rigidez inesquecível. E minha fala abandonar-me, deixando apenas a impressão de que estou prestes a ter um colapso de ansiedade. O pior é que, subitamente, todas as minhas idéias (falas), a muito ensaiadas, se embranquecem. Mas sem nenhuma reação emergencial em mente, recorro à omissão. Fico ali, parado. Imóvel, viro uma estátua grega: pálida e sólida. Isso é diferente de qualquer outra coisa. E meu espelho, cansado de ser usado para encenações atordoadas com frases sinceras e evidentes, pode comprovar isso. Mas me parece que nesses momentos, tudo é bloqueado por uma áurea pura e um juízo decente. É a hora em que meu vazio saudoso é preenchido pela sua presença. Eh! Sua, só sua. É você, você é isso. Isso que eu sinto. É por você que tenho calafrios, pernas bambas e colapsos de ansiedade. É como se a sua presença me fizesse esquecer a sua ausência dos fins de semana anteriores. E se a sua timidez desinibida espantasse a minha segurança abalada. Não há nada de patológico em você, só há excelência. Seus defeitos são apenas pretextos da sua perfeição. E eu acho tão único, tão singular quando tenho seu semblante aqui, junto do meu. Fico admirando seus olhos brilhando, desinteressados por pessoas que ali passam e por coisas vãs. Mas aí, você percebe meu queixo caído, eu elogio seu cabelo preso que me faz pirar e sua timidez a deixa corada. Então, eu tento te aconchegar em meu ser, e sem precisar de palavras, digo: estou na sua. Só que quando estamos juntos o relógio parece se revoltar com a exatidão dos segundos. Tão de repente – como antes quando te senti mais perto pela primeira vez – você se vai. Aí, de novo você me lembra do infortunado saudosismo. Fico te mandando depoimentos sem esperar resposta. Não acho ruim, entendo. Qualquer tipo de angústia se vai porque eu sei que mesmo que você os apague, não os esquece. Eu te ligo e você está acompanhada por seu pai – dito bravo por outrem – e eu não sei o que falar, fico bobo. Quando desligo o telefone, me condeno por não ter assuntos suficientes pra te entreter. Você me desconcentra. Só depois de um tempo, conformado, vou escrever o que vem na cabeça, só pra dar um tempo de você. Mas o que eu penso não é sobre crise mundial ou gripe suína. Não sou intelectual, muito menos culto. Deixo que os críticos façam seu trabalho, enquanto eu fico aqui escrevendo sobre você. Sem precoces conclusões, não escrevo sobre o amor. E sim, sobre seu jeito de abalar minha estrutura e conseguir me prender a você. Porque por você eu me deixei levar pelo sentimentalismo escasso desse mundo, mas abundante em mim. E nem a minha escassez de assuntos e a sua abundância de timidez me deixam inseguro. Não interessa o silêncio ou sua cara corada. Pois só você que me deixa de queixo caído, Joules.