14/11/2009

Os dias de sábado.

Não gosto muito de sábados. Ok, é um dia bom para dormir a tarde inteira, assistir House mais à noite e sair com os amigos/família. Mas geralmente o sábado não faz parte das melhores coisas que acho na vida. É triste. É cheio de lembranças. É meio vazio, visto que no sábado sequer leio.
Alguns dos acontecimentos mais importantes da minha vida aconteceram, de fato, no sábado. Isto não significa que foram todos bons e cheios de sorrisos doces e alarmantes. A maioria muito triste, por sinal. Uma despedida, uma morte, a mudança de casa - pelo qual até hoje não me conformo-, o dia em que fico sozinha em cada o DIA TODO, o dia que minha mãe fica com a minha irmã e o marido dela, um encontro triste e bom no shopping que resultou meus seis meses de choros intermináveis e babaquices, o dia que entrei no curso de Inglês etc. Há coisas cômicas, tais como o dia em que resolvemos beber (EU NÃO FAÇO ISSO, VIU!) só para no outro dia não ir à aula de Biologia, o que resultou numa bronca moralista de mamães e castigos para todos; festas, novos amigos, mas sempre uma lágrima no final das contas já que aquele que eu pertenço não existe no meu círculo social.
De fato, não gosto dos Sábados e nem dos Domingos. Prefiro a Segunda-Feira, agitada e tem basquete no final da tarde que possibilita assistir o pôr-do-sol na San Francisco Avenue que é simplismente incrível, principalmente quando coloco roupas brancas e um tênis mais claro (não sei pq, juro.)
A rua vazia, festa na cidade mais tarde, e eu escutando uma música linda do Iron and Wine chamada "Passing afternoon". Mais tarde, sandúba e House M.D.
Deixo com vocês essa foto linda que achei na Internet.
Bom sábado e até a próxima!


03/11/2009




Que fim o quê!?

Se eu ainda estiver vivo, digo estar vivo mesmo, não quero mais viver nenhum fim. O começo, a empolgação de algo novo e o prazer de não pensar em nenhum término me parecem mais excitantes. O fim apenas deixa saudade. E ela sempre me faz buscar algum canto para escorar meu pensamento em uma lembrança qualquer. Quero aproveitar meu intervalo entre os extremos do ser, talvez conhecer os extremos do mundo, usufruir do meu lado extremista descontrolado, esquecer que existe um mais ou menos. É como água gelada em sol quente e dia de chuva com chocolate quente. A intensa conexão entre os opostos é proporcional às suas diferenças. Agora entendo que a morte é só mais um novo começo. É um começo para aqueles que ainda não a conheceram. Hoje é dia dos finados, não tenho costume de visitar cemitérios e chorar pelos mortos. Só acho que a saudade não está ali presente, e quem dera que estivesse. Mas, ela vai andar onde quer que haja um coração que sinta falta. E é sempre a falta que nos faz mover, nos faz procurar algo que a substitua. Por causa disso existe a lembrança que retorna ao presente todos os sentimentos e calafrios vividos, só que em outra dimensão, a do pensamento. Então, essa é a chave para a imortalidade. Existem pessoas eternas, e coisas que não têm fim. O sorriso, os pensamentos, a particularidade, enfim, tudo que se vai, de certo modo continua. Continua aqui na nossa cabeça. Tudo que se vive de bom nunca terá fim. E como qualquer um pode se tornar em uma falta, um vazio, não há porque chorar, porque onde andar a saudade vai estar também o querer. O desejo de um começo sem fim, porque nenhum final é feliz.

Ah, eu estava com tanta saudade daqui. Estou de volta, isso aqui não tem fim não! Escrever aqui é a melhor coisa que posso fazer nessa vida. Quero voltar com tudo, mas antecipo, vida de vestibulando não é fácil não ... Enjoy it.

Beijo Rafa :*

05/10/2009

Nostalgia e saudade.


Ideologia e destino, não necessariamente nesta ordem.

=]

27/09/2009

Você, que nem ler o que eu escrevo no longer.

Olhe, me desculpe. me desculpe mesmo, não queria que tivesse sido assim. Mas é que você se foi, porra! Você vai embora e acha que é isso. Quem quiser que se recupere sozinho. Mas não é. É difícil pra quem fica, você deveria saber. Mas não, você é quem vai, quem deixa, o artesão da dor alheira. A noite estava linda. Um calor agradável, céu cheio daquelas estrelas transformistas, planos para nós. E me vêem com aguinhas-com-açucar. Detesto água com açucar, quebrei o copo na boca. Engoli o vidro como se ele fosse o seu depoimento no Orkut, ele não quis me ferir. E aquele clima repugnante, daqueles vultos mais preocupados em estar dentro do acontecimento. Na minha cabeça, antes mesmo que eu sentisse, questões práticas afloraram. É, era eu aprendendo auto preservação. E o tempo, melífluo, eu ficava observando da minha cama, com uma puta febre. O depoimento estava, convenhamos, patético. Eu achava que você era mais interessante. E aquelas recomendações? "Não me odeie". Me poupe. A situação já não estava sob o seu controle. Não havia mais controle. Cada um tomou as próprias rédeas, que você largou, distraído, com aquele depoimento estúpido. E dentro de mim a euforia típica das pessoas apaixonadas e que não são recíprocas, desse novo brinquedo e o medo do poder contido nele. Nunca achei que fosse dominá-lo, estou quase lá. Das últimas vezes que eu tenho te visto, temos estado no meio de muitas pessoas. Os vultos estavam todos lá, só que nem dava pra ver. Você roubava e rouba a cena de qualquer um.
Não vou dar uma de vítima. I gotta go. Tenho uma vida para colocar a andar, e você tem estado me atrapalhando. Os choros noturnos, as músicas que te lembram, os textos TODOS para você nesta merda de site. Preciso aprender a perder.

19/09/2009

Um pouco lost

Estou à procura de mim. Devo ter me perdido em alguma esquina com carrinho de churros ou em algum bar que haja coca-cola de vidro bem gelada. Eu fico querendo me encontrar em outras coisas ou pessoas, só que nada parece ser tão espontâneo quanto meus momentos em que fico sentado aqui nessa cadeira, com a tela do computador deixando reflexo nos meus óculos e minha mente se contorcendo pra escrever alguma coisa que seja útil. Aqui, me encontro. E já foram tantas horas, um pouco melancólicas até, que estive assim nessa mesma posição deixando de dormir o necessário e esquecendo que existe um monte de coisas além da minha habitual xícara de cappuccino ao lado do mouse. Sem falar do fone no ouvido. Onde o reggae me deixa com calafrios, deixo meus pensamentos no mudo e viajo sem nem perceber que já estou longe. Mas, é longe mesmo que me acho, dotado de amor e de amores, comendo churros, tomando coca. Às vezes acontece isso, me perco de amor. Como diz a música aqui no meu ouvido: reggae a vida com amor.

13/09/2009

The voice


O fato é que homem não gosta de mulher que presta. Ficar se vestindo bem, sem decotes ou algo que chame atenção, não quer dizer nada. Saber um pouquinho de literatura, história, política, você é considerada ultrapassada (acredita?). Ter um bom coração é sinônimo de burrice. Ter olhar doce é sinal de carência. Ser educada é sinal de conquistadora. Se você é tudo isso, acredite, homens não gostam de mulheres que prestam pra alguma coisa e sim daquelas que não fazem outra coisa a não ser desfilar com suas maquiagens e babados, seus sorrisos e câmeras digitais pelo shopping, frequentadoras de shows e festinhas de gente "wanna be" que ninguém consegue andar pela quantidade de corações esmagados que tem no chão.
Depois de cinco meses, não sei se quero mais a presença dele. Acho que estando sozinha eu não tenho que me preocupar com cabelo, unha, depilação, etc. Eu posso muito bem ler no sábado à noite, assistir um filme P&B e depois ir dormir. Mesmo com todo mundo falando que realmente, você é melhor assim Rafa, eu começo a discordar do "acho" e passo a ter certeza: eu te queria. Queria, porque foi uma história meio sem começo, meio sem fim. Queria, porque sempre quando estou numa rodinha de amigas em algum bar e começa a tocar alguma música bonita eu fecho os olhos e abro aquele sorriso singelo angelical, lembrando dos nossos segundos juntos, dos nossos beijos e da sua mão gelada ao tocar a minha numa noite em que, meu bem, eu quase morri de tanta felicidade. Hoje eu morro por não sentir mais seu toque. Já faz cinco meses e eu ainda posso sentir.
Mais você, meu bem, quis a garota magra da conta bancária gorda. Você quis a sua coleguinha. Quis a sua garota da perna malhada e da bunda mais durinha. Ela mexe no cabelo, ajeita o decote, cruza e descruza as pernas em saia curta, sacode ombros, faz beicinho, fecha os olhinhos, empina peitinhos para tentar me provocar raiva e até mesmo ciúmes. Mas Rafa Smith está concentradíssima em sua torta de chocolate e suco de laranja, trocando olhares com os amigos na sua frente encantados somente nos segundinhos que separam uma garfada de outra.
Apesar do som que desconcentra até os fumantes mais neuróticos e as bexigas mais desesperadas depois da cervejinha, as mocinhas e tiazolas, no fundo (bem no fundo) estão lá para ouvir a voz do cantor que estava lá nesse final de semana, Daniel. E não é que ele, espertinho, ainda me resolve cantar na última música? Você e sua garota no canto, fingindo nem me conhecer, ela, impassiva e chamativa, nem me viram atravessar a praça de alimentação. Estava impossível andar de salto naquele chão com tantos corações esmagados.

05/09/2009

Pereza


Aula de espanhol: o desinteresse estimula a preguiça que secreta o sono crônico, o maldito que me domina e devora todo o resto da minha vontade de fazer seja lá o que for. Minha cabeça pesada procura um equilíbrio constante e meus olhos consomem toda a energia que me resta para se manterem abertos. É como se eu tivesse tomado um porre, onde tudo roda, tudo cansa, tudo enjoa. Parabéns pra “aborrecência”, destruindo minhas chances de me tornar um garoto exemplar e diminuindo minha paciência para o que não me parece atrativo, entiendes? E não há de ser culpa minha os meus cochilos repentinos, que acabam me fazendo babar nas folhas sob a carteira dura. Também me inocento dos cochilos vespertinos, os quais todos os adolescentes que se prezem não deixam de tirá-los. E vale ressaltar que todo o meu ódio pela física resultou em uma prova virgem, pura. Mas, isso é apenas mais um detalhe dessa vida, porque se exato eu for, como a tal, nem indiferente poderei ser, todos terão equações para resolver e achar o resultado do amor, da felicidade, de tudo. Sem precisar amar e ser feliz, mas, tudo estará no papel e só nele. Hoje, eu suponho que faltou um pouco mais de pasión na tal aula de espanhol do maestro “Rúlio”. Sei lá! Minha imaginação fértil me faz pensar que uma chica com vestido rubro tocando suas castanholas iria fazer da aula bem mais interessante e interativa, ou até uma palhinha de tango com rosas vermelhas na boca. Bem clichê. Mas, agora, só preciso de mais umas horas de sono. Só penso em dormir, eu sei! Hasta la vista, baby!

17/08/2009

Voe, Viuller


Depois de um longo e forçado descanso, minha caligrafia medonha e rascunhada está de volta. É lógico que tenho minhas desculpas meio esfarrapadas e tal, mas, deixa pra lá. Além do mais, não preciso comentar aquele papo todo de férias corridas e descansos exagerados, era. Tudo já voltou ao normal, claro que se antes normal fosse. Confesso apenas que foi tenso estar ausente e blá blá blá. Sabe? Saudade mesmo. Saudade das longas noites sem dormir e até dos gritos da mama me enchendo o saco por deixar de estudar pra ficar escrevendo “nisso” – dizendo ela. Que seja! Fico mesmo, quero mais livros e livros, enquanto meu desinteresse por estudos escolares só cresce. O que me sustenta é a tal da UnB, e só. Agora já é hora de me apegar mais a essa tal de liberdade, e quem sabe até a uma tragada de independência. Isso, só pra inflar meus pulmões com um pouco mais de sonhos e loucuras. E espero voar, como sempre muito lesado, meio desligado e estranhamente eu. Também quero aprender um bocado de coisas que gente inteligente e culta sabe, quero ser daqueles de traje social descolado jovem, e por incrível que pareça com cara de gente, sabe? Mas, enquanto isso, eu vou continuar na pacata cidade de “Anápolis Ville”, onde não há furacões e nem vulcões, mas, ainda há um terremoto na minha vida que abala loucuras, e continua.

31/07/2009

I have already been somebody.

Esqueci a luz do abajour ligada e no meio da noite ela começou a piscar. Abri os olhos pesados, fui ao banheiro à procura daquela luzinha que não me deixava dormir. Um precipício. Um verdadeiro abismo.
O abajour me fez lembrar que eu não estava dormindo mesmo, mais fiquei incomodada com aquela coisinha laranja piscando porque isso me fez lembrar da luz da vida. Como se fosse uma luz no fim do túnel e por mais que eu corra ela só fica distante e distante. Uma espécie de fé misturada com desespero. O que me lembra que alegria e tristeza sempre andam juntas. Quando uma está na minha mesa, a outra dorme na minha cama. Olhei pra tristeza, deitada na minha cama e senti falta das mãos macias e grandes, do tato, do melhor toque do mundo. Sentei na beirinha do vão da pia e fiquei ali, chocada por alguns instantes. O tempo já tinha passado e até mesmo quem antes tentava me dar apoio e abraço pela sua perda se esqueceram de mim. Talvez eles achem que já faz tempo demais e sentido nenhum. Ah quem sabe a Rafa esteja recuperada. Mais afinal, de que eu teria que me recuperar? Você só passou um dia comigo, uma noite e eu me achei no direito de pegar tudo aquilo lá e me apaixonar de verdade. Olhei ao redor, ontem de madrugada, e vi as mil possibilidades de viver que a vida já trouxe pra mim nestes quase 4 meses sem você. Todas as vezes que eu me senti um lixo quando minhas amigas me ligavam e chamavam para um programinha, eu fazia uma voz de doente e preferia ficar no meu sofá ou então na mesinha de estudos pra lamentar tudo o que não aconteceu. Hoje minhas amigas já não ligam mais e tudo que eu precisava era que elas ligassem e me mandassem tomar bem no meio do meu CU porque é isso que eu preciso. Todos os 21 garotos que eu dispensei dando a mesma resposta a todos: "O amor da minha vida já passou, então é melhor não nos enganarmos, não é?" E todos compreendiam. E quando não compreendiam eu inventava que estava com gripe suína e pronto.
Hoje, aqui olhando minhas malas e pensando que a única coisa que segura minha onda é meu trabalho. Não como antes, pois agora todos meus textos são pra essa vagabunda da tristeza que tomou conta da minha cama. Mas, agora nem meu blog sozinha eu tenho. O que vai me segurar? E quando todas minhas notas estiverem baixas, o que vai me fazer feliz e andar de cabeça erguida? Me pego lembrando de que eu só queria que chegasse um e-mail seu. Ou melhor: que vc chegasse ao vivo. Que merda, eu sou tão sua. Eu sou tão sua que eu não deixo ninguém mais tocar em mim. Tão sua que eu vou esperar todas as noites por você, como se no outro dia você chegasse, fizesse uma cara feliz de me ver ainda de esperando e então a gente vai ser feliz pra sempre. Não porque seja uma idiota, não me dê valor ou não tenha nada melhor pra fazer. Apenas porque você me lembra o mistério da vida. Simplesmente porque é assim que a gente faz com a nossa própria existência: não entendemos nada, mas continuamos insistindo.
Admiro minha força diante de você. Fingir que não estou nem aí pra mim não é muito difícil. Porque antes de você, meu amor, eu não estava mesmo nem aí. Depois que você apareceu na minha vida é que passei a viver em prol de fazer a porcaria da cara de simpática, gastar uma energia enorme em cima da droga do salto e ter muito cuidado pra não cair. Ninguém vê, mais já acordo fazendo uma força enorme para não me matar. Já acordo fazendo uma força enorme pra não berrar de chorar e mandar todo mundo ir à merda. E mais força ainda é quando eu te vejo e a única porcaria que você faz é me dar um oi simplório das pessoas que só se conhecem de vista e não tiveram nada mais que isso. O Oi simplório que quando é dito fico morrendo de vontade de te abraçar, te beijar, de rasgar, ali mesmo na frente de todo mundo. Você, meu professor, o amor da minha vida, razão para toda essa calma que se fez em mim, motivo por ainda eu conseguir fingir ser forte, estale os dedos e olhe para o chão. Eu estarei ali, arrastada em possibilidades e forte em atração para subir até o andar para o qual você me der asas. Aqui estou eu aberta até onde se pode rasgar, exposta até onde se pode vender e insinuando até onde se pode explicitar. E ainda que isolada de cúmplices, longe de aplausos e renegada de benção, aqui estou eu novamente servindo com prazer os meus joelhos à divindade do desejo. Se você não puder esperar, será bem-vindo em minha ansiedade. Se você me quiser embaixo de mangas, será bem-vindo em meu masoquismo feminino nada original.
Volta porque pode até ter uma coxa mais dura. Pode até ter uma conta bancária mais recheada. Pode até ter alguma descolada que te deixe instigado. Mas não tem nenhuma melhor do que eu. Não tem. E não me sinto fraca ou boba ou perdendo meu tempo por chorar por você TODAS as noites. E eu malho todo dia igual a essas suas amiguinhas de quem você tanto gosta, mas tenho algo que certamente você não encontra nelas: assunto. Bastante assunto. Eu não faço desfile de moda todos os segundos do meu dia porque me acho bonita sem precisar de chapinha, salto alto e peito de pomba. Eu tenho pena das mulheres que correm o tempo todo atrás de se tornarem a melhor fruta de uma feira. Pra depois serem apalpadas e terem seus bagaços cuspidos.
Também sou convidada para essas festinhas com gente "wanna be" que você adora. Mas eu já sou alguém e não preciso mais querer ser.
Eu tô morrendo de vontade de te ligar agora e perguntar se eu posso mesmo te esquecer de uma vez. Mais ao invés disso, eu apago o abajour, volto pra minha cama escutando The Fray até conseguir pegar no sono, enquanto sua imagem se torna cada vez mais nítida na minha mente e todas suas palavras pairam pelo ar.

15/07/2009

Revival

Por: Rafaella Barreto, Cléo Araújo, Joana Araújo (mãe de Cléo).




Trocaram olhares no xerox do DA.
Alfredo afixando um pôster para divulgação da “XXIII Festa dos Veteranos – Turma de 2008”.
Ella copiando uma apostila de Direito Civil I.
Alfredo - embora estivesse afixando um pôster para divulgação da “XXIII Festa dos Veteranos – Turma de 2008” - de camisa polo, sério, estilo futuro advogado
Ella de maquiagem leve, usando um vestido longo de frio e uma sandália baixa, estilo garotinha que quer dar ar de mais velha na faculdade.
Estudavam na mesma faculdade, mas em anos diferentes. Ella no primeiro, Alfredo no último.
Alfredo já tinha aulas de Direito Internacional.
Ella fazia DP de Teoria Geral do Estado.
Ella andava de ônibus. Alfredo de Fiat Zerinho.
Pois trocaram olhares no xerox.
E depois na cantina.
E depois no boteco da frente da faculdade, quando se cruzaram na porta do banheiro. Que era unissex.
Aí, um amigo falou dela pra ele daqui. Uma amiga falou dele pra ela de cá.
Já se sabiam então. Fácil assim. Mais fácil do que colar na prova de Direito do Trabalho.
Para se quererem, não precisavam de mais nada.
Era só esperar o dia da chopada.
É que além do chopp, a chopada tinha também um show do The Fray cover. E foi ali, no meio da galera, que eles conversaram e riram um pouco das piadas um do outro. E foi no refrão de “Trust Me” que ele colocou um Trident de menta na boca. E que eles se beijaram pela primeira vez.
Aí resolveram que iam se beijar também no dia seguinte ao da chopada.
E no dia seguinte ao dia seguinte.
E naquela semana todinha.
E na outra.
Aí ela começou a se afastar dos amigos.
E ele começou a carregar sua “menina” para as festas do último ano.
Não se desgrudavam um segundo sequer e enforcavam todas as aulas que existiam.
Mas foi depois da “XXIII Festa dos Veteranos – Turma de 2008”, da qual saíram quando o sol já ameaçava nascer, que acabaram dormindo juntos. Foi na república de umas amigas dela. Verdade que já era quase dia, verdade que a noite tinha sido longa, verdade que eles tinham ouvido todos os CD's que havia na república e tomaram alguns refrigerantantes, ambos não bebiam, verdade que queriam dormir... Mas “Dormir? Pra quê? Deixa para dormir depois que a gente se formar e quando, aí sim, a gente não tiver mais nada o que fazer dessa vida!”
E foi ali que ficaram até meio dia, ele de cueca e ela no seu terno parecido com de advogado, ouvindo “Radiohead” comendo bombom de uma caixa de especialidades da Nestlé, pensando nos nomes que colocariam nos seus filhos, sem se desgrudar um segundo sequer e, como de hábito, enforcando todas as aulas que existiam.
Dois bimestres, duas provas de Processo Penal, um exame e dois recursos para pedido de abono de faltas depois, já não estavam mais juntos.
Ella voltou para a sua turma de amigas, que continuou sendo certinha com os horários e curtindo um livrinho de vez em quando.
Alfredo começou a estudar para o exame da OAB.
Trocaram olhares cinco anos depois num escritório chique na Avenida Faria Lima.
Ella dentro de uma sala de reunião envidraçada.
Alfredo na sua mesa, do lado de lá do vidro, fingindo ler uma publicação.
Ele não tinha certeza se ela era Ella.
Ela tinha certeza absoluta de que ele era Alfredo.
Pois trocaram olhares.
E depois?
Voltaram para casa. Cada um para sua.
Mil coisas na cabeça.
Ele colocou um CD do The Fray para tocar. Abaixou o volume das luzes, pegou um pedaço de pizza congelado, um refrigerante e deitou no sofá. Queria curtir o som no escuro. Queria desafinar no repeat junto com Isaac Slade. “Everyone knows I'm in
over my head, over my head”. Queria curtir a lembrança de tudo que tinha acontecido lá atrás. Ficou nostálgico. Foi dormir sentindo saudades daqueles tempos que não voltam mais.
Ela colocou um CD do “Radiohead”. Jogou a pastinha longe, tirou o casaco pesado mais que lhe dava um ar de mais velha e tirou a maquiagem. Esquentou um sanduíche no microondas, tomou uma soda e comeu uma caixa inteira de Especialidades da Nestlé. Chorou no repeat junto com Thom Yorke. “For minutes there, I lost my self... I lost myself...”. Sentiu um vazio. Um oco por todas as coisas que poderiam ter sido. Ficou triste. Foi dormir se sentindo só, pois como se fosse a única capaz de sentir saudades de tempos que nunca vieram. A única capaz de sentir saudades pelos tempos que jamais virão.

24/06/2009

Aquele dia na Marginal.


Hoje passou aquela música na rádio, que hà tempos não passava, e me lembrou daquele dia em que estávamos voltando da feirinha que tinha no bairro toda quinta-feira, no carro, cruzando a Marginal. Eu segurava uma latinha de coca-cola já quase vazia e um bolo para levar ao meu pai, cuidadosa como eu era/sou. Eu tinha acabado de sair de uma dieta terrível por causa do acidente, havia perdido uns 10 kilos pra mais. Você, como sempre, a mãe conservadora que eu sempre quis ter, gostava de fazer minhas vontades, e uma delas era me levar na feirinha do bairro toda quinta. Eu amava comer aquelas tortas que lá faziam, e depois, quem sabe, um bombom da tia da quinta Avenida. Então, neste dia eu estava muito feliz por estar ali com você ao meu lado, com a latinha de coca na mão e com o corpo que sempre almejei e invejo-me até hoje por tê-lo tido. No rádio tocava uma música alegre e que me lembra o quanto gosto de às vezes sair pela noite de carro simplismente para ver as luzes da cidade. De tão deslumbrada, nunca esqueci daquela noite na marginal, com aquela música na rádio.
Hoje senti tua falta, um pouquinho. Um pouquinho daqueles que você quer suspirar porque sabe que um dia foi tão feliz, mais tão feliz, que tudo acabou e não há nada que possa ser feito. Você foi a mãe que eu sempre quis ter, apesar de amar a minha. Você foi quem me ensinou a quantidade de água certa para se colocar no arroz, a fazer um cóque no cabelo por causa do Colégio Militar, e até mesmo a arrumar meu guarda-roupa. Nunca vou esquecer da mãe que você um dia se tornou para mim. Eu queria muito poder te abraçar e lhe agradecer por aquele dia na Marginal, por aqueles dias todos outros. Você é a mulher que eu quero ser quando crescer. Mas o que dói é saber que hoje tudo isso se desfez, todos os sonhos, todas as luzinhas coloridas na Marginal, todos os sorrisos efêmeros e as conversas excitadas. E assim como a música na rádio começou, ela acabou. Com a mesma intensidade de uma flor, parada em meio a uma estranha cinza e deserta, em que todos passam e não percebem a presença daquela coisinha delicada no meio do caminho. E à sós.

Não chora, te amo

Na hora certa meu celular toca, leio a mensagem e me sinto um pouco aliviado e meio desnorteado, tendo sempre respostas quase que imediatas, parecendo ser um bom sinal. São telefonemas de durações exageradas e brincadeiras casuais do tipo: “desliga, vai. Não, você primeiro. Ah, desliga você.” E momentos proibidos em tardes estressantes que só se aliviavam debaixo de uma árvore, só pra matar a saudade. E nessa madrugada, voltando pra casa, ouvindo o bêbado e a equilibrista, eu pude me lembrar de quando ela nem sabia meu nome e nem eu o dela. Quando minha paixão era apenas rastro de um encanto súbito da primeira vez. Percebi que não precisei de telescópio para mapear constelações em galáxias anos luz longe de mim pra encontrá-la, sem querer olhei pro céu e ela caiu aqui. Aqui bem na minha frente, sem precisar de mais horas melancólicas no meu quarto escuro que me faz dormir, só pra esquecer coisas do dia-a-dia, sem ela. Não sei se era anjo ou qualquer sinal de que a gravidade ainda existe. Só sei que o universo nunca mais me pareceu tão distante, ela me trouxe um pouco de céu. E eu devo mesmo estar no paraíso.

23/06/2009

Mais ou menos acéfalos

Tem gente que sabe fingir que tem. Tem que sabe fingir que sabe. Tem gente que sabe fingir que é gente. É gente que se engana com tanta gana. Tanta futilidade em liquidação e a prazo, só não se vê o bom senso à vista. Mas, o que sobra no bolso falta na cabeça. Falta idéia, conhecimento e até parafuso. Tudo tem que ser o melhor, então se compra uma barriga nova e um nariz mais fino e arrebitado, pra combinar com a pose, que vêm na prateleira com ticket de preço. Além das modas semanais e descartáveis que desperdiçam milhões de um mercado negro de consumistas frenéticos(as). Que, aliás, consomem apenas o pouco que os restam na cabeça. E agora, eu pergunto: Tem gente que morre de fome? Esse povo que é gente de verdade. Onde sua maior propriedade é o seu vácuo estomacal, diferente do vácuo moral daqueles, já citados. Essa gente é que tem a experiência do viver além do que não se tem. De sentir fome de ser mais, não de ter mais. E será que eles têm? Será que eles sabem? Será que eles são?

17/06/2009

Gostinho bom de passado


Minha primeira memória de mim mesma é a de um abrigo de plush vermelho, que tinha um palhaço bordado na frente - mas dizem que antes disso eu comi um ovo de lagartixa achando que era uma amêndoa confeitada. Chovia muito na minha primeira noite trajando o abrigo de plush vermelho. E minha irmã nascia na Santa Casa de Misericórdia. Eu aguardava em casa, com minhas tias-avós, à luz de velas e comendo algo muito mais bacana do que ovinhos de lagartixa: chocolates em formato de moedinha. Eu tinha quatro anos, mas sabia muito bem que dali a algumas horas chegaria um bebê em casa. E eu já tinha um nome para ela: 'Jenny'.
Desde que me lembro de mim, sempre adorei festas de aniversário, embora no início eu me comportasse de maneira estranha: sempre vomitava às vésperas das festinhas! Às vezes, minutos antes do primeiro convidado chegar. Depois os ataques de ansiedade nervosa passaram (e um dia pode ser que todo esse conteúdo não vomitado se transforme em uma úlcera ou sei lá), e eu só chorava mesmo quando minha mãe atrasava para me apanhar na escola. Mas as festas eu aprendi a curtir. Meus pais preparavam-nas com intuito quase cenográfico. Só foi ruim quando o Brasil perdeu a copa jogando muuuito mal por sinal e a festa ficou mó zicada. Tinha como esporte predileto ensaiar cestas na boca do palhaço, eu já gostava de basquete essa época e era meu primeiro ano no GET ( ao todo, tem 11 anos que faço, acredita?) Era uma veia Broadway-Hollywoodiana que se manifestava desde a tenra infância e para onde eu canalizava todo meu talento de coreógrafa-basquete.
Tinha vergonha de tirar qualquer nota que não fosse 9,5 ou 10,0 quando estudava no colégio militar, mas depois no 1° ano essa vergonha se transformou em vontade de enforcar aulas e ponto. E foi assim que eu segui durante alguns anos: brincando com a Panasonic da minha mãe e dirigindo espetáculos rodados na garagem ou no jardim da minha casa, comendo sonho de valsa e goiabada com requeijão, tentando ganhar uns dois quilos porque eu era muito magra na época e jogando basquete como se fosse uma estrela em um campeonato.
Aí eu mudei pra Gyn em 2007, até hoje não sei bem por que, mas achava que essa informação poderia ser útil aqui. Morei dois meses em Nova Iorque, aos 5 anos, o que era bom porque eu já podia comprar meus próprios doces de Halloween. Mas de tudo, o que mais me marcou foi aquela vomitada que meu colega de van deu sobre o meu pé em nosso trajeto JFK-Big Apple (percebi neste momento que essa história de vômitos vem permeando minha vida). Depois de ser recebida em Nova Iorque por esse welcome exorcista, descobri, mesmo assim, que curtia viajar. E esse tem sido, depois de escrever, um hobby que tenho levado muito sério.
Hoje estudo das 07:00am às 20:00pm de segunda a sexta, e acho que tenho talentos em mim que são subaproveitados - todos eles envolvendo contas, redações e fórmulas. Sou viciada em Google, vinho tinto, muzzarela Quatá e biscoito de polvilho. Tenho amigas de infância que preservo até hoje, mesmo que elas estejam longe de mim geograficamente. Sou preguiçosa para quase tudo, menos para guiar na estrada, cozinhar e jogar basquete. Ainda tenho muita coisa pra aprender dentro de mim, mas ainda não sei se quero me casar. Começo a achar que tenho vontade de ter bebês, mas acredito que eles possam vir na forma de sobrinhos e/ou afilhados. Adoro dançar jazz quando estou um pouco bêbada, adoro fingir que estou um pouco bêbada só para poder dançar jazz.
Um dia, quero construir uma casinha no sítio da minha mãe, onde eu possa ter cachorros e passar os finais de semana prolongados cultivando hortas de manjericão. Em outro dia, quero ir morar em Londres. De vez em quando, gosto de falar inflamadamente sobre política, economia e religião. Mas geralmente, quero mesmo é assistir uma comédia romântica no sábado à noite e me acabar dentro de uma vasilha de pipoca. Ah, e eu queria ter vivido na idade média, em Veneza. Ah, e não tenho mais qualquer tipo de problemas para ganhar peso.

14/06/2009

Relatos sobre um suicida

Todo mundo sabe que a única certeza dessa vida é nada mais nada menos que o oposto dela. Não só o oposto da vida, mas o da certeza. Nem se imagina o que há depois da morte, apenas se crê numa vida após ela. O único problema é que não se sabe e nem se decide quando nos tornamos adubo. Há quem adie e quem antecipe. Tipo aquelas pessoas que se matam de dentro pra fora, com veneno amarelo, gelado e bem espumante, mas também os que tomam o último cálice da vida e pronto, já era. Cada um é dono do seu próprio destino, temos a liberdade de fazer o que quisermos, nos jogarmos de cima de um prédio ou na frente de um carro, por exemplo. Eu aprendi que ninguém faz isso por causa da tão falada moral, sempre acompanhada da sua parceira ética. Mas, será mesmo? Porque se isso fosse levado em conta sempre, não haveria nada além do normal cotidiano. Por esse fato, acho que a moral não é o fator crucial para que alguém não enfie uma faca perpendicular ao pulso. Até matar alguém exige menos moral do que se matar. Mas, ao matar não se sente a dor e a sensação de quem está morrendo, diferente de matar a si próprio, onde o remetente e destinatário da morte são um só. Dor. Essa sim é a palavra certa, esse é o bloqueio do autoassassino. Quem não quer mais viver acha fácil se despedir desse mundo, mas, o difícil é o que se sente quando bater com o corpo a vários quilômetros por hora no chão, ou a faca cega que não rasga a pele com tanta firmeza fazer jorrar a vida. Esse sim é o medo, o sofrer pesa mais que o partir. A vontade vem quando não se tem saída, quando se quer dormir e acordar século que vem ou nos momentos de lágrimas contínuas causadas pelo sofrimento motivado pela ausência de qualquer necessidade essencial ao ser humano, tipo a felicidade. Suicídio é igual tatuagem: tem gente que quer fazer, mas tem medo da dor. E ao se fazer aquela marca, fica pra sempre, assim como a morte.Mesmo com tantas colocações sobre o polêmico assunto, eu apenas indago minha posição sobre o decidir quando partir. Tenho meus princípios e os prezo, cultivo a vida e a preservo, e esse é meu único dom.

11/06/2009

O cinza de tudo


Eu quis chorar e disfarcei olhando para as pessoas fazendo caminhada do outro lado da rua, com os olhos imóveis. Tudo parecia mais cinza com aquela luz branca baixa. Muitas pessoas na rua aquela hora. E mesmo assim eu só conseguia ver você com aquela blusa azul que eu tanto te acho lindo nela. Um precipício. Tudo mais uma vez desconhecido.
Eu quero correr o tempo de volta. Virar a ampulheta e te encontrar. Novo começo. Quando, ainda, a história não havia encoberto o meu sorriso em nuvens de tristeza. Que momento esse seria, se naquele dia que nos conhecemos, mesmo gentil em nosso primeiro encontro, já existia um cinza estranho projetado no meu olhar?
Eu não sei, são tantos e todos os eventos na vida do ser humano. Tantas peças, nunca soube juntá-las. Nem sequer as minhas. Vide essa cinza, sempre lá e cá, nunca colorido. Nada que pinto. Um vestido, uma sandália e uma caixinha de lembrar. E mesmo assim o cinza parece pesado e grande. Vai entender. Você diante de mim, agora, segurando o copo de alma selada. Sem nada falar. Mas, o único mistério, é essa sombra maior que seu corpo projeta na minha existência. E eu fico aqui, apagada, tentando te enxergar sem meu óculos e com o cinza na mente. É noite, fria, gelando a ponta do nariz e doendo no coração. Eu tento decifrar, mas apenas me perco em considerações pessoais. Sobre você, tudo é tão simples que dói. Então, só me resta fantasiar alguma teoria louca, sobre o cinza das nuvens de inverno. Aqueles dias sem fim de frio e pouca cor. Como essa vida que mora atrás do meu olhar. Nessa maldita noite.
Nós nos cumprimentamos assim: sem encontrar o nosso passo, sem encontrar nossos abraços.

07/06/2009

A perdida


Trago com força. Tento assimilar a tarde de ontem. Palavras soltas. Leve ironia. O chão desaparecendo sob os meus pés.
Só mesmo comigo para acontecer uma dessa. Só mesmo com a louquinha que acha que viver bem é entregar - se a tudo que há. Só com quem bate no peito e berra aos cantos, interessados e desinteressados: Just be free. Talvez nunca tivesse me sangrado tanto ser todos os instantes.
Com uma só pancada foi - se lentamente o sorriso, a admiração que nutria por você e, também o estar - se à vontade ao seu lado. Essa pancada tua fez ir embora até a minha auto - estima. E um homem que maltrata uma mulher ao ponto de faze - lá sentir - se menos atraente não merece seguir ileso. Dá pra aceitar um monte de coisa, mas com a auto – estima de uma mulher não se brinca.
Um gole de café amargo. Mais um trago. A folha de papel parece sumir da minha frente. Embriago - me de rancor e fumaça. Neste momento eu trocaria todos os bons segundos que estive junto de você para não ter que me sentir tão poste hoje, agora.
Eu via tanto de herói em você. Enxerguei os olhos ternos bem mais e primeiro do que os ombros largos. Sei que isso é exclusivo do universo feminino. Naturalmente, você não romantizou nem um gesto. Nem uma vez nem outra. A massagem, o cafuné... nada, você não sentimentalizou nada.
Não pense que eu fiz planos, eu não queria de verdade nada duradouro, não pensei no passo de depois. Mas assim não é certo. As máscaras não caem assim tão rápidas, caem? Percebi que a figura heróica só mesmo existiu porque eu rabisquei dando forma, colori o interior e, ainda usei efeito de movimento, dando vida ao personagem.
Só eu mesma pra me perder numa reta.

06/06/2009

Noite fria, chocolate quente


Às três da manhã estou sentado em frente ao computador, e do lado do mouse há uma caneca cheia com chocolate quente até o topo. A colcha de retalho da minha avó ajuda a esquentar meus pés friorentos calçados com meias de lã, dificilmente usadas e que me ajudam a escapar do frio. Meu samba-canção me deixa o mais confortável impossível. O silêncio da casa só é quebrado pelo tec-tec do teclado e pela respiração um pouco fungada do meu irmão que dorme. A cidade está manchada pela neblina densa, que quase nem se vê cidade, é tudo frio. E que frio! Tem uma massa de ar fria aí no país e blábláblá. É mais ou menos isso, nem vi a moça do tempo direito. Mas, nem é o tempo que me importa ali, ele só ajuda a dar aquele aconchego arrepiante. A fumaça do chocolate faz com que meus óculos se embacem e tenho que forçar as vistas pra poder ver o que eu estava escrevendo. Mas, nem precisava, era da Joules que eu escrevia, era também da minha insatisfação com a política corrupta e a miséria mundial. Mas, não foi a mesma coisa de sempre, foi muito fora da rotina, bem exótico e anormal. E pra mim, devia ser o que todos deviam fazer, lógico que não é ter que acordar de madrugada e tomar um chocolate bem quente, mas, sair da rotina, da mesma frase, da mesma música, do mesmo sorriso, da mesma cara para a mesma pessoa. Rola trocar a fita, mudar de pele, atualizar o moicano e o rabo de cavalo. Deixar de usar os uniformes da moda e as coleções de calçados inutilizáveis, apenas consumíveis. Trocar o sertanejo pelo reggae, o funk pelo blues e o MPB pelo street. Eu parei de viver em função do tempo para viver em função do vento, parei de me desgastar reclamando da física “exata” e comecei a evitá-la. Evitei o futuro e esqueci o passado pra viver no presente. Meu atual hobby é sair da rotina, é fazer o que ninguém faz, sofrer do que ninguém sofre e sentir o que ninguém sente. Eu decidi sair da órbita de um planeta pra me deixar levar pela loucura. Sentir a insanidade se apossar da minha sobriedade e minha ética e moral se autodestruírem.

31/05/2009

Certinha


Aquela menina tem vergonha de pedir desculpas, acredita? - Abaixo o café com a colherzinha pra mexer o açucar dando uma risadinha irônica. É, eu to falando sério. Aquela menina tem vergonha de pedir desculpas, até para uma de suas amigas que mais a ama. Dizendo que não faz "jogo social", que não "se humilha para os inferiores". Uma pausa aí. Quem é inferior a quem neste mundo? Ela se acha a melhor? Ela se acha a mais bonita? Ela acha que é o Barack Obama, que é o Lula, que é a puta que pariu? Coitadinha dela. Ela é só mais uma entre um milhão de garotas gostosinhas que tem a bunda maior que o espaço que ela ocupa no mundo e os peitos mal se aguentando no sutiã. Você é só mais uma, amiga. Um dia você vai ser como o Barack Obama, o Lula, o Papa, a puta que pariu. Vai ser o dia que você morrer, sabia? Você veio do pó e é pra lá que você vai voltar. E esteja muito satisfeita disso. E esteja muito satisfeita. Agora ela vem com essa histórinha de "humilhar para os inferiores"? Quem é inferior a ela? Eu? A faxineira do colégio? minha mãe? minha avó? minha irmã? minha família? meu ex? suas amigas? seus professores? Quem? Quem? Quem é inferior a ela? Ou melhor, quem é superior a ela? Existe alguém "mais" que os outros aqui nesta Terra? Acho que não hein.
Coitadinha da garota, ela é só mais uma gostosinha sem cérebro. E tá se achando, tá se achando a sabe-tudo-do-momento. E tá se achando a última coca do deserto. E tá se achando que é superior à Deus e ao mundo. Coitadinha da garota, mal sabe que ela é um nada nesse mundo e a existência dela é insignificante pra muita, mais muita gente. E ela fica lá, pousando de gatona. Achando que todos os garotos da cidade querem comê-la. Ainda bem que existem - poucos mas existem - meninos com cérebro nesta cidade.
Dizendo ela que é minha amiga, que faz o que faz pela "amizade". Possivelmente meu conceito de amizade então está bem errado. Eu achava que amizade era compartilhar tristezas, alegrias, emoções, coisas boas e ruins. Era ajudar uns aos outros e estar do lado. É amar. Amar. Entendeu? A-M-A-R. Aí essa gostosinha chega e me mostra que amizade não é isso, ou não é parte disso. Ela diz que amizade é só balada, só alegrias, só bebidas e vícios. Ela diz que a gente tem que ser amigo só nas horas boas e que a tristeza da outra pouco importa. E quando a outra se dar bem, ou ganha um prêmio - tipo de internet ou algo assim - ela diz que qualquer um conseguiria e tenta espalhar para todos os outros que eu trapaceei no resultado ou qualquer coisa do gênero. Tipo inveja, entende? I-N-V-E-J-A.
Eu tô cansada de conviver com esse outro lado de amizade, que tenta mudar meu conceito mas não está nem próximo de descobrir. A gente até entende os defeitos dos outros, claro que sim, eu pelo o menos a amo. Mas não dá pra entender que "amizade" ela pressupõe. Se é que ela sabe o que é ser amigo. E ela tem vergonha de pedir desculpas, acha errado. Coitadinha.
E sabe qual é o mais engraçado disso tudo? É que eu que estou errada. É! Meus valores são os errados e os dela são certos.

Certinho, amiga. Você tá certinha, quem é a errada sou eu.

29/05/2009

As minhas letras


Acordo com 5% de melhora, as mãos ainda estão frias e a temperatura sobe um pouco mais. Já tentei remédios, médicos, mas nada parece adiantar. O aconchego é ficar o dia todo em casa, recebendo visitas de amigos e mensagens no celular de leitores amigos. Minha mãe fica falando: "Tá vendo, Rafa? você é amada! Então agora dá pra parar de ficar chorando porque isso só vai fazer você piorar!". O Alessandro e a Cléo repetem a mesma frase. Percebi mesmo quanto amor sentem por mim. Hoje de manhã entrei rapidamente no orkut pra pegar umas fotos e me deparo com um scrap de uma menina lá de Goiânia que hà séculos não falava comigo dizendo "me passa seu msn aee :D". Aquele jeito ridículo de escrever. Odeio quem escreve aAaXiIm ou que usa letras em exagero. Mas levei em conta, eu tô doente mesmo, carente e precisando desabafar. Deixei pra responder o scrap em outro momento. Quando voltei no meu scrapbook lá estava outro scrap da garota: "Add aee amoor [um profile], aqeeee eh u irmÃO dela!11!". Senti vontade de vomitar na frente do computador. Amor? quem me chama assim sem ao menos me conhecer? Amor foi terrível. É, mãe, realmente eu sou muito amada. Nem conheço o garoto - se é que ele está falando sério mesmo - e o playbas já vai me chamando de amor. Quem ele acha que é?
Não é a primeira vez que isso acontece. Sabe, no início do ano, eu era um pouco mais simpática no msn do que agora e se alguém - do qual não conheço e tal - viesse puxar papo comigo no msn usando esse tipo de grafia até que levava numa boa, deixaria fluir o papo para numa determinada hora dizer vou ali já volto e bloquiar. Agora não consigo nem suportar a foto das pessoas que escrevem assim. É um "tipo assim, gata", "putz", "se pá" a cada meia palavra.
A Cléo ontem me disse que talvez os garotos tenham medo das minhas letras, assim como tem dela, que também é blogueira e tudo mais. Medo das minhas letras, dá pra acreditar? Ela disse que eles acham que se não forem bons o suficiente , no dia seguinte iria ter um texto dela com o título “tudo o que é bom dura pouco, mas dois segundos não é rápido demais?”. Eles acham que se não forem inteligentes o suficiente durante a noite, no dia seguinte não vão escapar à critica “o que sobra dentro da calça falta dentro do cérebro”.
E conversa vai, conversa vem, ela me disse que teve um que até disse pra ela “se você for me largar, promete que me conta antes de publicar? Não queria ficar sabendo pela Internet!” E teve também, claro, o clássico: “putz, gata, você já foi logo escrevendo que adorou a noite de ontem, que está apaixonada...ficou muito fácil, perdeu a graça”.
Tem de tudo. Do cara que não sustenta namorar uma mulher que não só tem passado (existe alguém com 19 anos que não tenha passado?) como resolveu escrever um livro sobre ele, ao cara que fala “tanto texto bonito para outros caras e nenhunzinho pra mim? Não quero mais sair com você!”.
É isso então. É aí que está o problema. A Cléo disse que escrevo sobre a minha vida assim como ela, e isso causa nos machos um misto de medo “será que ela vai me expor?” com um misto de quebra de magia “ah, ela se expõe demais ali, prefiro aquela mulher muda e sem personalidade que sempre vai ser um mistério para mim”.
Entrei numa baita crise. Quase tirei meu blog do ar e tudo. Repensei a vida, repensei a morte da bezerra, aumentei a dose de calmante, vou voltar pro Kickboxing. Mas depois cheguei a uma conclusão maravilhosa e definitiva: nenhum homem, até hoje, me deu mais prazer do que escrever. Então que se danem eles.

Tropeço no tempo

Eu estou muito tempo sem escrever, peço até desculpa para os meros leitores que seguem esse mal atualizado blog. Minha vida tá uma puta confusão. O tempo tá sem tempo de ser tempo, e eu sem tempo de ser eu. O pior é que eu mal pude começar a dizer: sim, eu sou. E já fico me contradizendo falando que estou esvairando-me de mim mesmo. Difícil de entender? Mas isso é o que é, mesmo que inexplicável. Dá pra perceber que meus textos não estão tão requintados e distintos. Mais desculpas, mas o problema é que quando escrevo já não há mais pessoas nas ruas e a cidade não está mais plugada na tomada do caos. Eu que sempre preguei que ter personalidade própria é o que importa, agora fico meio abalado. Mas, nem sei o que está acontecendo, acho que é mais uma daquelas fases de transição, quando algo vai mudar – e no caso esse algo sou eu. Mas, às vezes nem é isso. É bem capaz de ser apenas mais um curto-circuito no meu sistema. Culpa dessa vida volátil que, constantemente, se altera com abrupta facilidade. A homeostase celestial bate à minha porta, ela vem esfregar na minha cara – meio cabisbaixa – que não existe felicidade plena que não é seguida da febril tristeza. Porque a tristeza causa febre sim, ela faz com que qualquer mínima parte do corpo se entregue ao calor friorento, desajustando tudo e deixando tudo sem controle, mais do que já pode estar. Mas, esse equilíbrio tem hora que cansa, é preciso ser mais extremista, ter distúrbios mentais ou emocionais. Deixar de ser sempre mais ou menos, e pra isso o amor dá um jeito. E, de novo, o amor é a resposta. Essa saga parece mais com um funil, onde não interessa quantas infinitas voltas forem dadas, sempre vai sair pelo mesmo lugar. A homeostase eu mandei embora, pois essa chacoalhada que o amor me deu, foi o bastante pra eu deixar de pensar no tempo e começar a, realmente, aproveitá-lo. E tenho prova mais do que suficientes de que isso é verdade, Joules também.

23/05/2009

Não deixo que me deixe




Porque eu não me descanso de você? Você não me deixa fazer meus deveres, escrever meus textos, tomar meu cappuccino achocolatado e estudar física, que um dia você vai me ensinar, sem pensar em você. Não se sinta culpada, eu é que sou muito extremista. Eu sento aqui pra poder pôr em prática todas minhas idéias malucas que sempre surgem com experiências pouco notadas, mas me deparo com aquela vontade louca de te ter, de te possuir e te deixar sem graça quando eu falo – com exagerado eufemismo – o quanto você é linda. E não tem jeito, eu acabo escrevendo sobre você. Tenho que te libertar de mim e me libertar de você. Fico tentando suprir a necessidade que eu tenho de você com outros pensamentos descontraídos e banais. Mas nada me parece mais banal do que tentar te esquecer, pelo menos por um instante. Porque isso nunca dá certo, e logo eu deixo de fazer tudo só pra ouvir uma música que me faça lembrar aquele beijo proibido de hoje cedo. E antes que outros perguntem, digo logo: a gente é “sei lá o que”, por enquanto. É muito cedo pra dizer que temos algo e muito tarde pra dizer que não temos nada. Tarde demais, porque eu te quero muito. Você e esse seu jeitinho “sou morena e tô podendo”. E o pior é que você tá mesmo.

19/05/2009

Saudosismo infeliz

O aconchego da tarde de hoje me submeteu a um desejo pungente de chorar. É até engraçado quando alguém - limitado - lê isso e pensa: olha esse menino que só sabe falar de amor e de seus sentimentos sofridos. Não tem coisa melhor do que poder lavar minha alma. Minha mãe diz que chorar limpa os pulmões, e sorrir os faz mais forte. Eu até concordo e acho possível, serem os meus, os pulmões melhores do mundo. Essa minha vontade de hoje foi o acúmulo de ontem, anteontem... Eu só estava muito ocupado com minha diversão do tão bem aproveitado fim de semana. E que fim de semana! Só não foi tão bom devido à ausência da Joules e pelo infortúnio de minha música preferida não ter sido tocada pela banda de domingo. Mas, teve uma peculiar perfeição da sexta animada e cansativa, do sábado durável e do domingo que nem parecia ser domingo, sem Faustão nem Fantástico. E foi tão incrível, que essa rara felicidade, não momentânea, vai durar a semana inteira, assim espero. É claro que vai durar, porque eu vou matar a saudade da Joules. Vou dar aquele abraço gostoso, aquele beijo delirante e dar aquela olhada que a deixa tímida. Vai ser eterno. Não eterno enquanto dure, mas que eternize o que durar. E sabe aquela vontade de chorar? Me fez dormir, e eu quis esquecer, me mostrar forte. Nem pude acompanhar o sol poente, o que já virou costume. Mas foi melhor assim, ele me faria lembrar a moça presente, constantemente, nos meus sonhos. Evitei, ao máximo, não reparar meu ego abalado pela falta que você me fez. Mas nem teve jeito, eu tive a felicidade, ou infelicidade, de te contactar pela internet. E foi só contato (verbal), só e só. Não pude te ver, te tocar nem te sentir. Só me fez ter mais saudade. Mas, amanhã eu vou te ver. Não vai ter mais saudade nem ausência. A lágrima vai ser evitada e meu ego vai continuar abalado. Mas a felicidade, essa vai durar. Não enquanto eterno, mas enquanto você me abraçar, me beijar e me olhar.

13/05/2009

Dito mundo

Fim do mundo. Não é mais um “texto clichê” sobre catástrofes, argumentos bíblicos, previsão maia, nem nada do tipo. É algo intrínseco as nossas mãos, nossas próprias mãos. E que me desculpe os maias, os cientistas, mas nós somos os verdadeiros protagonistas desse filme P&B Europeu. Desconsiderando prés e prós, a situação em questão não deve ser discutida a partir de uma visão religiosa, científica, e muito menos ficcional. Nossa realidade vai além de beijos técnicos ou mocinhos com cabelo emprastado de gel e com bochecha rosada, mesmo que nesse lugar – dito mundo – a maioria saiba atuar muito bem, obedecendo ao que está no roteiro de uma modinha contemporânea ou de uma ideologia sem pé nem cabeça. A humanidade – sem humanidade – está vivendo em absoluta falta de sincronia. E isso, quando entendido como um fenômeno evolucionário em que o individualismo se torna culminante a qualquer tipo de movimento sensível e humano, pode ser apontada como uma das maiores razões causadoras dos conflitos de interesses entre nações, religiões, preferências sexuais e relacionamentos. O mundo é equacional, tudo que está fora da ordem, está em função dessa assincronia multipolarizadora da desumanidade que é inversamente proporcional à solidariedade e ao favorecimento universal. E nesse umbigocentrismo todo, cada um faz o que quer, do jeito que quer, na hora que quer. O Homo assincronicus assim se revela no momento em que, graças a essa (triste) evolução, mostra que para ele o que vale é a realização do seu querer individual. Poucos são aqueles que conjugam seus quereres com o outro, ou até os ainda mais raros, que fazem dos quereres do outro, quereres seus. Em nome da realização de um querer instantâneo o Homo assincronicus abstrai, e por vezes até desrespeita, a vontade do outro. O qual não necessariamente se encontra no mesmo estágio evolucionário da espécie.A população mundial deve ser formada, hoje, por 97% de Homo assincronicus. O que faz dos míseros 3%, os Homo sincronicus, uma espécie em extinção. É como se essas duas espécies habitassem universos paralelos de uma realidade compartilhada. Como se fossem extremos opostos, inconfundivelmente, água e óleo. No mundo assincrônico (que é formado por vários micromundos), ninguém ama ninguém. Só a si próprio. Todos são deuses supremos de seus micromundos. Déspotas de suas monarquias sem súditos. Esse caos sincronizado se dá pela falta do que realmente vale a pena, aqui e agora. O homem nasceu pra ser livre, ter a liberdade de fazer o que bem entender e sentir o que quiser. O problema é se deixar levar por essas opressões de sentimentos, que acabam sendo omitidos. Nesse universo – que é mundo sim – desperdiçamos tão banalmente cada oportunidade de realmente ser e não apenas ter, porque nós nos esquecemos de valorizar o que somos, sempre que damos valor só ao que temos. É preciso amar mais. Deixar de ser apenas um ser humano pra poder “ser1mano”.



Viuller Bernardo, Rafaella Smith

Leia meus textos, vai.


A ideia de hoje foi te pedir um favor. Eu escolheria algum texto meu que gosto muito e você leria pra mim. Sem oi, sem tchau, sem coisas feitas ou a fazer. Nada de você, nada da sua vida. Nada que constate a sua existência independente. Apenas a sua voz. Esse é só um dos absurdos que passam pela minha cabeça quando me salta você no peito. Como se meu coração fosse uma dessas caixinhas surpresas e você o boneco de mola pra assustar crianças. Elas se assustam mas riem e abrem de novo e de novo.
Acabei de ver Santiago, o documentário, e tive um acesso de choro daqueles. Ele escreveu sobre toda a aristocracia do mundo e isso arrasou comigo, amor. Arrasou. Ele era o garçom das festas, que você chorava. Uma pessoa que servia feliz a uma beleza triste. E no final, não sei se você viu o filme, mas ele quis contar algo pessoal e apressaram ele, cortaram, o que ele realmente queria dizer não tinha importância. E quase, quase quis te pedir um favor. Mais uma das minhas ideias. Pra você, por alguns minutos, só enquanto eu chorava demais, pra você fazer de conta que abismos não existem. E não existem mesmo, nesses segundos descabidos das horas que não entram no dia. Porque agora, nesse segundo que corri aqui pra te escrever, nesse momento não existe essa coisa de dia e de dois meses exatos. Existe só que vamos todos morrer então pra que mesmo o orgulho de sair ileso mais um dia. Mais um dia ileso. Como se não fosse cheios de feridas que raspamos com as costas das mãos as nossas roupas de guerra e dormimos em paz.
Outro dia tive uma ideia. A cada doze dias, perto das onze horas da noite, eu chegaria sem dizer nada e você também não poderia dizer nada. E então a gente ficaria junto. E aqui não tem nada de erótico não, é bonito isso que eu quero dizer. E depois acabava mesmo. E a cada doze dias de novo. E isso seria um contrato já que meu doentinho daqui da cabeça quer tanto. Pro resto da vida. E tudo bem pra você, vai. Sim, seria um contrato, mas olha que maravilha os outros doze dias sem nada. E seria só por algumas horas perto do meu perfume da Britney que você vai gostar, tenho certeza. Então, tudo bem. Acho que você assinaria.
Hoje eu estava estudando Termodinâmica e fazendo cálculos mas explicando como se faz no rodapé da página do meu caderno, daí vi que é isso que faço melhor do que ninguém. São tantas as coisas que eu queria te falar e contar. E eu sigo fantasiando que você entende tudo e melhor que todo mundo. E isso acaba comigo mas, ao mesmo tempo, me tira um pouco da chatice burra e apática de sempre. E então, me vem a ideia de realmente te contar as coisas. E por isso escrevo. Porque se você entra aqui pra ler é você que, com todo o meu amor que você nem imagina, consegue sentir como sendo seu. E então é mesmo essa coisa maluca de eu me livrar do que eu nem sei se sinto pra você, sem nem saber se sente, sentir o que já estava aí esse tempo todo. A troca do absurdo. Nisso trocamos. O absurdo.
Hoje eu perguntei a um amigo. Você era feliz com ela? E ele disse: eu era muito feliz com ela. E muito triste. Sem ela eu não sou nem uma coisa e nem outra. Eu sorri e disse pra ele: eu prefiro a vida assim. Ele disse: prefere mesmo? Eu disse, comendo um pão de queijo: não, não prefiro, mas pelo menos, assim, eu consigo estar aqui com você pesando mais de cinquenta kilos.
São, sei lá, duas e pouco da manhã. Passo boa parte de tudo sem doer, sem sentir tão forte. Às vezes nem parece que aconteceu. Mas o tempo todo, ainda, converso e te mostro tudo, o tempo todo. O tempo todo. O tempo todo. Não porque sou sozinha. Não porque era menos sozinha com você. Apenas porque apenas.
Lê pra mim meus textos. Com a luz apagada. E gosto de você além da minha imaginação, não porque aprendi a gostar, mas porque por mais que eu sonhe, você é ainda melhor que o sonho. Você é além da minha capacidade em te imaginar.
Mas é isso. Um filme com o maluco do fraque e das castanholas me emociona e pronto. O boneco salta da caixinha e espanca meu peito com cabeçadas duras e olhar macabro. A hora que não entra no dia. E eu mais uma vez preferindo não sair ilesa pra me sentir menos machucada.
Você pode, ler meus textos todos os dias, brincar do não abismo, qualquer coisa, só ler, mantendo a ética profissional, ser apenas meu professor e eu sua aluna e, só me ler, mas não me esquece, por favor. Eu nunca vou esquecer você. Eu não soube o que fazer com você, mas sei o que fazer com o não você. Isso eu sei fazer e faço bem. Lembrar que era terrível e incrível. Terrível, meu amor, como poucas (ou nenhuma) coisas foram. Mas absolutamente incrível.

11/05/2009

Numericamente exausto


Meu Deus, que tédio. Não agüento mais, estou ficando estressado. Minha agenda de afazeres não me dá descanso. Tenho que estar sempre fazendo alguma coisa produtiva com aquela pilha de livros didáticos que eu nem mesmo leio a metade da metade. Há tantos anos que venho acordando antes do sol dar as caras por aí. Gasto a metade do dia aprendendo. Mas aprendendo o que? Que diabos eu vou querer saber sobre a trajetória de um objeto em velocidade constante, aceleração nula, gravidade comum, de pressão 10atm a 26 ºC e abaixo do nível do mar? Recupere o fôlego! Sendo que eu nunca vou desprezar a resistência do ar ou considerar que estou no vácuo. Essa minha vida já está muito cheia de incógnitas misteriosas e indeterminadas. Como se pode aprender essas babaquices ditas “exatas”? Se pra fazer um cálculo tenho que considerar até se meu vizinho tem se alimentado bem ultimamente, consumido bastante carboidrato. Tem gente (pirada) que gosta. Eu não. Eu não quero saber nada dessas suposições fúteis. É muito “imaginar” e “supor” pro meu gosto. Fugir da realidade, eu já fujo há muito tempo pra poder esquecer as hipocrisias humanas. Preciso de um transe corporal, um coma induzido. Não por mim. Numericamente induzido pelo cansaço. Tem um desejo que me toma sempre que percebo minha fraqueza por tarefas coercitivas desse mundo. Sempre que eu passo noites em claro pra recuperar minha nota em matemática ou sempre que deixo de escrever o que há de mais belo nessa vida. Vou abandonar toda essa regularidade dos dias monótonos e cansativos. Eu vou à praia. Pegar altas ondas, mesmo que eu nem saiba boiar na água. Cantarei Plain White T’s misturado com Jack Johnson ao redor de uma fogueira, enrolado num cobertor meio sujo de marshmellow. Ao sol nascente, sentarei na areia gelada, descalçarei minhas Havaianas (as legítimas) e escreverei ao ritmo das ondas do mar. E a sua melancolia há de me desestressar.

10/05/2009

Felicidade Realista.


Nas primeiras vistas tudo é encantador. Os motivos para valorizá-lo são esbanjados em uma freqüência de hora suficientemente capaz de burlar qualquer sistema de autodefesa que dolorosamente se formaram em quinze anos. E eu nem percebo. Eu abandono a certeza de que perfeição inexiste. Uma sutil ameaça de esperança surge no íntimo e eu sinto uma absurda vontade de apostar o que sobrou das fichas. Mas eu fico quieta. A gente sempre levanta com certo receio de desabar de novo. Mas nós, as pessoas, somos renitentes. E eu não uso esse argumento como desculpa de ter como fulcro a leve em exagero dinâmica estrutural do psíquico humano. Ao contrário, tudo o que falo é tentando não coibir minhas emoções. Inapelavelmente a realidade é essa. Eu sei que esta cautela não dura mais que algumas horas se o beijo for bom. Se o cheiro for bom. E, se ele me fizer gargalhar até a barriga doer então... Vai toda a casca de proteção por roupa abaixo. Esse pensamento me apavora. Porque eu já sou uma garota cansada, o que eu faço? Acabei de tirar as fraldas e já estou cansada. Arquitetar planos e depois me ver obrigada a anulá-los rouba, covardemente, energia. Imaginem fazer isso em ritmo frenético, sem intervalos. Sim, estou ficando sem forças.
Eu já me sinto lúgubre antes mesmo da próxima queda. Eu havia combinado comigo que dessa vez seria diferente, dessa vez eu não permitiria nascer encantamento por ninguém. Mas o novato começa bem – e eu não acho que isso seja bom – que fique claro - me busca em casa oito da noite. Senta no sofá da minha casa, faz um elogio à minha mãe e, em instantes está intimo da família inteira. Consegue até virar ídolo da minha irmã caçula. Ele prepara o jantar, escolhe o filme e sabe me deixar à vontade em seu apartamento de solteiro. O perfume dele está em mim desde a noite de ontem e eu fico feliz por ter conhecido uma pessoa que se banca sozinha.A lugubridade se deve à continuação do primeiro raciocínio do texto, o pensamento que me fez sentar aqui mais uma vez. Este moço começou bem como tantos outros. E não aconteceu nada que me fizesse acreditar que com ele seria diferente. Daqui a uma semana os defeitos já são tantos que é mais lucrativo tentar a sorte com um homem novo. Para os que estão me achando pessimista quero contar que essa história de viver atropelando tudo, sem medo e sem cuidado para mim já basta. O mosaico da minha alma que o diga.
Eu analiso friamente o perfil do novo alistado. Na casa dos 20 anos, recém formado, sorriso colgate, cabelos louros, lisos e, facilmente encontrado qualquer dia da semana em uma boate da cidade. Não, não é para o meu bico. Pela conversa fui capaz de perceber a alma do garotão que acha que curtir a vida é testar semanalmente o poder de conquista. Cair repetidas vezes no mesmo buraco não combina com a pessoa inteligente que tento ser.
Eu sinto sede. Não tenho água. E essa sede não se restringe somente a saliva. É sede de carne, espírito, coração. Eu tenho sede até dos problemas dele, tamanha é a vontade de ter alguém que valha a pena. Aproveitando o espaço para dizer que troco cinco moleques por um homem, quem se interessar entre em contato.

07/05/2009

As coisas como mudam


Eu ainda não sei aonde a gente vai. Se àquele restaurante que serve Orfoff com gelo que você amava tanto ou àquela festinha nos sábados a tarde, como era mesmo o nome? For Friends, isso! Sim, foi há milênios atrás. Só sei que vou estar bem nervosa quando você parar na frente de casa para me apanhar. Vejo você descendo do carro para me dar aquele “oi” mais acalorado das pessoas que não se veem há muito tempo, especialmente aquelas, que já tiveram alguma (boa) intimidade, mas que ficaram por eras afastados um do outro. Já quase me vejo pensando numa gracinha qualquer para quebrar o gelo daquele primeiro beijinho no rosto e daquele abraço demorado - que eu vou interromper para entrar no carro antes de você perceber que meu coração está feito repique de escola de samba. Ainda não sei sobre o que vai ser o começo da nossa conversa.
Se sobre a crise econômica mundial ou sobre o novo filme do Woody Allen.
Mas eu acho que você vai falar mais do que eu. Dessa vez. Porque você é outro, eu sou outra, o presidente dos Estados Unidos é outro, enfim, a vida mudou muito desde aquele último gin-tônica.
Eu acho que tudo que você me disser vai me interessar. Ainda mais depois de meses sem que eu tenha prestado real atenção em alguém - mesmo que tentasse convencer a mim mesma, o tempo todo, que os assuntos deles me interessavam.
Num dado momento, vai até parecer que você quer se abrir, mas que tem medo, e que prefere esperar mais para entrar nos detalhes mais íntimos da sua vida num tempo em que a ela eu não pertencia mais. Certo você! Eu também vou preferir ficar na minha quando o assunto for o meu último relacionamento ou o fato de eu ainda escrever até hoje, sendo que você já mudou até de religião (sim, porque agora, eu descobrirei, você tem uma!).
Eu vou te achar um cara bem mais centrado, melhor resolvido, senhor de si e, bom, senhor de mim, naturalmente. Só que você não vai saber disso. É que eu vou fingir que não estou me derretendo por você, mesmo que, no fundo - e antes da gente ter dançado juntos - o meu sangue esteja correndo sob temperaturas venusianas.
Mas como você é outro, eu sou outra, o presidente dos Estados Unidos é outro, o título que o Santos ganhou é outro, enfim, como a vida mudou muito desde aquele último gin-tônica, eu não vou transparecer essa situação tão pessoal do meu sistema circulatório. E você vai ficar surpreso porque vai me achar tão tranquila e vai pensar que puxa, eu não era assim. Vai se lembrar de que achava até meio charmosinho o fato de que às vezes eu falava tão rápido quanto um locutor de corrida de cavalos. Mas ali, não. Porque eu vou falar devagar. Vou até evitar de dançar músicas mais quentes e que remexem mais, bem sossegada, enquanto você me serve mais um copo de Merlot e dá aquela dançadinha, como é o nome? Rebolation. Sim, algo me diz que depois a gente vai acabar indo tomar aquele milkshake que você adora. E que eu continuei a tomar por todos esses meses.
Se vamos falar do lugar? Só se você puxar a conversa para testar os meus conhecimentos visuais e para me agradar, é claro. Sim, você vai querer me agradar. Especialmente quando começar a achar que eu estou muito na minha para quem não te via há tanto tempo.
Daí o papo fluirá naturalmente para músicas e filmes. É, pensando bem, vai ser inevitável que falemos sobre o novo filme de Woody Allen. Passaremos rapidamente por assuntos Obâmicos, faremos referência à fusão de bancos, à sapatada no George Bush, à guerra na faixa de Gaza, à iminência do fim do mundo em decorrência do funcionamento do Grande Colisor de Hádrons e, é claro, à crise econômica global. Não esquecendo também de falar sobre a derrota do Palmeiras sobre o seu time, Santos, e sobre a derrota do meu time, São Paulo, sob o Corinthians (que por sinal, é o time do garoto que eu gosto, gostar não, gostar é meio ralo, mas não há outra palavra que defina). Aí você vai fazer aquela cara de cachorrinho sem dono e vai querer mais um milkshake.
Quando eu começar a contar sobre o livro que vão me patrocinar p/ escrever, você, sem dizer nada, vai se lembrar de como me achava romântica. Vai se lembrar da primeira carta que fiz pra você numa noite em que - você nem faz idéia - eu tive medo, de tão feliz que me senti. Você vai se lembrar de que, todas as vezes que nos falávamos por telefone, falávamos juntos, nunca dando o timing certo da espera da fala do outro, e que você achava isso irritantemente engraçado.
Mas de repente, enquanto eu estiver articulando as palavras no meio da entorpecimento dos goles de Ovomaltine e da sua presença quase insólita na minha frente, mil perguntas aporrinharão meu cérebro – mesmo eu percebendo que não é a hora para você revelar os tais detalhes íntimos. E eu vou te achar tão perfeito para mim, de novo, que vou começar a pensar: Será que um dia você chegará a me conhecer direito? A verdadeira eu? Essa, que dorme com a cachorra na cama e anda com um livro na bolsa o dia inteiro? Será que algum dia eu vou conhecer seus segredos, aqueles desprezíveis e ordinários? Porque não é possível que você não tenha algum, apesar dessa sua cara de banho. Será que algum dia você chegou a saber quem eu fui de verdade enquanto estávamos meio juntos? Será que estivemos mesmo meio juntos? Será que você precisa saber de alguma coisa minha que já não esteja à mostra? Será que adianta fingir que sabia de alguma coisa? Será que eu quero saber de um outro você que não esse aqui?
Para ser sincera, talvez, hoje, você nem caiba mais na minha vida. Porque sim, foi tudo meio lindo, mas meio triste também, não? Meio abortado. Meio sem começo, sem meio, sem fim. Metade de alguma coisa. E de repente, eu não acredito mais em nada. Não retorno suas mensagens. Justamente porque você é outro, eu sou outra, o presidente dos Estados Unidos é outro e a vida, meu caro, mudou muito desde aquele último gin-tônica.

06/05/2009

Mais do que física

Acho que estou doente. Venho sentindo sintomas notáveis. Não sei do que se trata. Nem mesmo se isso se trata, sou leigo quanto a patologias distintas do cotidiano. Só sei que sinto. Sinto um calafrio que apesar de frio me faz queimar por dentro. Vejo minhas pernas de tão bobas, se esquecerem da rigidez inesquecível. E minha fala abandonar-me, deixando apenas a impressão de que estou prestes a ter um colapso de ansiedade. O pior é que, subitamente, todas as minhas idéias (falas), a muito ensaiadas, se embranquecem. Mas sem nenhuma reação emergencial em mente, recorro à omissão. Fico ali, parado. Imóvel, viro uma estátua grega: pálida e sólida. Isso é diferente de qualquer outra coisa. E meu espelho, cansado de ser usado para encenações atordoadas com frases sinceras e evidentes, pode comprovar isso. Mas me parece que nesses momentos, tudo é bloqueado por uma áurea pura e um juízo decente. É a hora em que meu vazio saudoso é preenchido pela sua presença. Eh! Sua, só sua. É você, você é isso. Isso que eu sinto. É por você que tenho calafrios, pernas bambas e colapsos de ansiedade. É como se a sua presença me fizesse esquecer a sua ausência dos fins de semana anteriores. E se a sua timidez desinibida espantasse a minha segurança abalada. Não há nada de patológico em você, só há excelência. Seus defeitos são apenas pretextos da sua perfeição. E eu acho tão único, tão singular quando tenho seu semblante aqui, junto do meu. Fico admirando seus olhos brilhando, desinteressados por pessoas que ali passam e por coisas vãs. Mas aí, você percebe meu queixo caído, eu elogio seu cabelo preso que me faz pirar e sua timidez a deixa corada. Então, eu tento te aconchegar em meu ser, e sem precisar de palavras, digo: estou na sua. Só que quando estamos juntos o relógio parece se revoltar com a exatidão dos segundos. Tão de repente – como antes quando te senti mais perto pela primeira vez – você se vai. Aí, de novo você me lembra do infortunado saudosismo. Fico te mandando depoimentos sem esperar resposta. Não acho ruim, entendo. Qualquer tipo de angústia se vai porque eu sei que mesmo que você os apague, não os esquece. Eu te ligo e você está acompanhada por seu pai – dito bravo por outrem – e eu não sei o que falar, fico bobo. Quando desligo o telefone, me condeno por não ter assuntos suficientes pra te entreter. Você me desconcentra. Só depois de um tempo, conformado, vou escrever o que vem na cabeça, só pra dar um tempo de você. Mas o que eu penso não é sobre crise mundial ou gripe suína. Não sou intelectual, muito menos culto. Deixo que os críticos façam seu trabalho, enquanto eu fico aqui escrevendo sobre você. Sem precoces conclusões, não escrevo sobre o amor. E sim, sobre seu jeito de abalar minha estrutura e conseguir me prender a você. Porque por você eu me deixei levar pelo sentimentalismo escasso desse mundo, mas abundante em mim. E nem a minha escassez de assuntos e a sua abundância de timidez me deixam inseguro. Não interessa o silêncio ou sua cara corada. Pois só você que me deixa de queixo caído, Joules.

04/05/2009

Castigo meu!

Vou me despedir e acabo logo com isso. Tá todo mundo me olhando. E que raio de jeito eu arrumo pra essa maldita lágrima não borrar minha maquiagem. Nem cuspe eu tenho pra engolir… É eu to sentindo uma febre me queimando no peito.
Eles estão me acenando um adeus que nem sabem que é adeus pra sempre mesmo. Bato um adeus com a mão no ar, que controle foi embora, minha boca treme o que era pra ser um sorriso. Mas é uma baita duma careta, aposto! E não é que os dois estão cantando a maldita música que tanto me amo! Aquela do Oasis - Champagne Supernova - mas agora… minha nossa… até parece prece no entardecer, parece mesmo a hora da Ave Maria… Por que será essa musiquinha misturado com esse momento virou oração? E não é que até o céu parece eu, triste e cinza, vontade de chorar.
O povo todo me olha todinha. Tremo na carne; o avião se vai e eu rodo em meu corpo fraquinho que preciso ir embora. Nada de avião sumindo pra sempre, senão não vejo mais a face deles, a solidão eu boto guardo na caixa de jóias que ganhei no lugar do ovo de páscoa Xoquito que eu tanto queria…. Mas mulher pode chorar e já não ligo se a tal lágrima descer... tá com jeito de chuva mesmo. Ou então eu to suando e… chega! Vou cantar, mas só sei de decorado a tal musiquinha do Oasis. Mas mulher menina canta. Minha voz é fraca, mas sai tudinho num ritmo certo, parece rádio que repete a mesma música sempre…
Agora complica-se um pouco mais: parece oração de romaria que os padres do Colégio São Francisco fazem - ou pelo o menos faziam - ou coral de fim de ano. Ou eu também fiquei louca ou será toda a voz do povo a me acompanhar nesse meu canto emprestado das duas, as minhas abelhinhas sem memória. Cai lágrima, não sei mesmo te secar, nem nada da vida! Tão mesmo cantando? Se olhar pra trás eu vou saber… mas que me importa isso agora? De certo o céu não caiu e nem o mundo acabou. Elas ficam bem. Vou-me embora. Não vou mais cismar senão esqueço a canção do Oasis.

Yes, we can

Hoje eu acordei com um desejo. Desejei poder fazer algo a mais. Algo além de mim. Não me bastava ser apenas mais um. Queria extravasar, me deixar levar. Pra me acabar, e acabar com minha previsível mediocridade. Queria me desfazer de um tédio irritante que insiste em perseguir-me onde quer que eu esteja. Onde quer que eu me esconda. Queria me desfazer da raiva que me consome quando meu vizinho não me deixa dormir com decibéis exagerados. Ou mesmo quando tenho infinitas tarefas de caixote, e minha cama me acorrenta pra mais um sono gostoso e aconchegante em mais uma tarde gostosa e aconchegante. E eu durmo, eu sonho. Eu quero mudar, mudar pra melhor. Mudar-me. Fugir pra longe, fugir de tudo. Fernando de Noronha talvez. Ou Etiópia quem sabe, posso ser mais Eu lá, do que Eu cá. Lutar capoeira com os bravos e fortes. Dançar no gingado das mulatas com seus dreads livres, leves, soltos. Quero poder me trancar no quarto, apagar a luz, e deitado, me enrolar na colcha feita pela amada avó e então ouvir baixinho Jack Johnson, ao som do violão, me dizer que amor é a resposta. Claro, amor é a resposta, pelo menos para a maioria das questões do meu coração. Eu tenho que amar mais. Ser mais amor. Eu sou amor. Mas que amor é esse? Se me tranco com o tal amor no quarto, apago minha juventude, e deitado, me enrolo na solidão e ouço baixinho minha consciência me pesar. Eu não sei amar! Meu amor é avarento, egoísta. Estou me deixando levar pelas ideologias anti-sentimentalistas do mundo globalizado e até por promessas ocas de políticos ocos. Só o Obama que salva. Será mesmo? Eu já nem acredito mais que Papai Noel, coelho da páscoa e Power Ranger existam. Putz! A indústria cultural é convincente. Edifica fãs que veneram ídolos que nem mesmo existem. E somos aptos a aceitar, tranquilamente, cada logro transmitido no intervalo da novela das oito (das nove). Isso me faz voltar a acreditar em lobo mal e bicho papão. Estou rodeado deles. Estou com medo deles. Estou com medo da minha mediocridade, do tédio, da raiva e das minhas tarefas de caixote. Eu sei que enquanto aqui escrevo, pessoas matam, pessoas morrem. Não agüento, preciso mudar isso. Posso ser apenas uma página de um conto de fadas, por exemplo. Mas talvez sem mim, o “felizes” não anteceda o “para sempre”. Estou acostumado com essa coisa de me cobrar demais, já virou hábito. Sou ariano, gosto de liderança e desafios. Talvez os astros sejam mais exatos que essa minha certeza de que eu posso ser alguém além de mim. Sou anti-egocentrismo. Meu irmão não. Ele se sente a “rapinha” do chocolate que sobrou na vasilha da sobremesa. Isso só porque freqüenta a academia da esquina e mal consegue respirar com sua regatinha apertada. Ele, como a maioria, é capacho das modinhas. Iludido por padrões de beleza levianos. Queria consertar isso também. Essa coisa de que tenho que ser como todos estimam. Desprezo o senso comum. Pra mim, estar na moda é ser comum. Pior, é ser subserviente do consumismo ordinário. Não sou o que tenho. Também quase nem tenho. Pouco me importa. Sou rico. Rico de bens culminantes ao material. Sem necessidade de citá-los, apenas os refiro em termos precedentes. Isso basta. Estou sem tempo de descrever-me e também um pouco de preguiça, assumo. Mas antecipo: estou em busca da felicidade plena. Mesmo abominado e inconformado com toda essa desordem, preciso me desfazer desses pensamentos funestos pra que eu possa me curar desse infortúnio. Quero viver. Quero dreads fora de moda. Quero ser livre, leve, solto.

30/04/2009

O cara perfeito.


Eu gosto de como você se empresta para a minha vontade de sentir de novo. Saio do colégio feliz porque estava frio e roubei um abraço seu, com uma blusa quentinha, que aquece bem pra quem senta perto do ar condicionado, chefiado pelo Augusto.
Eu gosto do seu sorriso porque você consegue a santíssima trindade do sorriso perfeito: sincero, intelectual, meigo. Você tem aquela pele braquinha, quase da cor da minha formando um contraste dos céus pra quem nos ver de perto juntos. É o labirinto onde eu fico quando você acha que eu não estou ali. Entre seu sorriso e sua pele.
Você, absurdamente animado com milhões de coisas maravilhosas que você lê ou escuta pela metade, querendo saber tudo ao mesmo tempo pra esquecer mais rápido e de uma vez. Querendo não saciar das coisas, pra caber mais do resto todo que nunca chega. Você tem a noção mais bonita de suficiência e exagero que já vi. Você tem o desapego pós empolgação menos levado a sério que já vi. Mas isso tudo é escondido pelos seus olhos de desligamento. É quase desinteressante o seu funcionamento - pq você é tão perfeito em coisas tão pequenas que eu já sei até como você funciona - não fosse tão digno de me emprestar um pouco de umidade pra secura que trago da rua.
Você tem todos os gominhos no lugar como se fosse um garoto de academia. Isso me faz rir embaixo do edredom, porque antes de dormir eu fico voltando a fita dos meus risos que solto quando estou perto de você. Você fez a escolha da vida dos homens desgastados e pra dentro, mas é como se os deuses te mandassem, ainda assim, doses diárias de uma beleza que me surpreende a cada vez que tento te transformar em qualquer coisa da minha tarde. Não precisa pente, banho, esteira, sol, peso, gilete. Logo de manhã no colégio e você está lá, com a beleza que eu só tenho, ao acordar, se acordar duas horas antes.
Eu gosto de você porque são tantos milhões de coisas que você sabe, mas você fritou e não diz nada. Você sabe tanto que tem preguiça. E perto de voce sou a típica da garota boba que leu nove livros, sabe de sete músicas, viu quatro filmes, conhece dois lugares e acha que ainda ama um homem. Quem sabe mesmo, nem começa a dizer. É tanto que dá preguiça. E ainda você diz que me acha incrível. E eu o amo mais.
Então eu gosto de você, de novo, porque não falamos nada. Simplismente gostamos de estarmos juntos, e ponto. Você porque sabe muito. Eu porque não sei porra nenhuma.
Faz minha vigília quando ouço sua voz do outro lado da linha ou quando simplismente leio uma mensagem de texto sua me chamando de sua musa. Parece errado, mas pra mim, pros defeitos que me formaram e por isso mesmo é só o que posso sentir quando sinto sem script, sinto que as coisas estão onde deveriam. E meu vazio, e tudo. Se encaixa. De novo, levando a pureza bem a sério pra pelo menos existir um pouquinho em meio a tudo isso. E eu, você não sabe como te agradeço, vou escutar música alta no carro sem perceber que o sinal abriu.

Ninguém te adora Alguém


Peso na consciência é o que eu sinto agora. Sinto meu coração se apertando acompanhado daquele sentimento que com certeza não seria capaz de descrevê-lo. Hoje – digo – nessa minha fase atual, eu dificilmente me arrependo de algo que faço. Mas, nem sempre foi assim! Uma desventura do meu passado me pesa – melhor – me aflige.
Fase da rebeldia. Tenho certeza que agora sua mente se dilatou de lembranças. Isso é orgânico, Durkheim explica. Eu não. Pois é, também curti muito. Mas nesse interstício, eu tive o prazer de conhecer Alguém (não sabia que seria um prazer, não mesmo). Depois de várias relações e interações sociais em nosso grupo, sétima série, nosso contato já era quase primário. Tudo corria bem, até que ocorre um fato social. Alguém virou punk. Que ridículo! Como aquilo era tosco. Podre, galerinha de modinha se enxergue! Foi-se, então, um laço corrompido. Também mais um ano vivido.
Eu variei de grupo. Alguém se mudou. Nem lembrava mais de Alguém, era uma pseudorepulsão. Alguém sumiu. Alguém se mudou de volta. Minha memória alienada se libertou de Alguém. Até aí tudo bem. De repente fui preso, me tornei um deltento. Oh doce destino, por que me usas como um barco à vela no rio? Se me governa, deixo que a correnteza me leve.
Num dia normal, num banho-de-sol na prisão. Com quem me deparo? Mais uma vez o sentimento indizível me corroeu as entranhas. Assustei. Alguém estava lá, bem de frente à minha covardia. Fingi que não vi, por medo talvez. Foi assim por um tempo. Um dia tivemos o primeiro contato. Beleza, Alguém está diferente. Alguém amadureceu, já não era mais punk pelo menos. Eu também. Menos um ano de deltenção, um ano de mais relações e interações sociais. Alguém e eu estávamos numa boa. Eu até admirava alguém, tinha algo a mais nele.
Uau, que destino utópico. Eu e alguém no mesmo grupo social. Massa! O grupo era outro. Eu era outro. Alguém era outro. Era uma relação harmoniosa. E eu nem me lembrava das desventuras rebeldes e punks do passado. Eu e Alguém conversávamos constantemente sobre uma garota virtuosa do nosso grupo. Ah, e que garota!
Um dia ouvi falar de uma web site de Alguém. Momento de redenção de Alguém na minha história (vida). Eu comecei a ler o que tinha no site, e aquelas linhas transcenderam meu ser. Linhas escritas com uma puritana sátira e ao mesmo tempo uma macabra delicadeza. Eu pirei, pirei, pirei mesmo. Juro! Que choque. Senti-me um World Trade Center sendo nocauteado por um avião controlado por Alguém, um avião cheio de inocentes palavras conformadas.
Alguém mudou tanto. Alguém se tornara um puta escritor. Ótimo em física – diga-se de passagem. Alguém me fez sentir mais um sentimento inenarrável. Ah! Como alguém me surpreendeu. Como Alguém é puro.
Eu era míope para Alguém. Finalmente tenho minha luneta mágica para enxergar-te Alguém. Alguém me fez nascer o que era apenas embrionário. Fez-me nascer essa vontade de escrever para tudo e sobre tudo. Essa vontade de escrever para a moça virtuosa, sobre um sentimento puro e cristalino.
Mas, perto de Alguém sou Ninguém. Ninguém que adora e admira Alguém. Por isso Ninguém quer agradecer Alguém por tudo, e fazer as desventuras do passado lembranças engraçadas.

Dedicado à Afar S.