14/06/2009

Relatos sobre um suicida

Todo mundo sabe que a única certeza dessa vida é nada mais nada menos que o oposto dela. Não só o oposto da vida, mas o da certeza. Nem se imagina o que há depois da morte, apenas se crê numa vida após ela. O único problema é que não se sabe e nem se decide quando nos tornamos adubo. Há quem adie e quem antecipe. Tipo aquelas pessoas que se matam de dentro pra fora, com veneno amarelo, gelado e bem espumante, mas também os que tomam o último cálice da vida e pronto, já era. Cada um é dono do seu próprio destino, temos a liberdade de fazer o que quisermos, nos jogarmos de cima de um prédio ou na frente de um carro, por exemplo. Eu aprendi que ninguém faz isso por causa da tão falada moral, sempre acompanhada da sua parceira ética. Mas, será mesmo? Porque se isso fosse levado em conta sempre, não haveria nada além do normal cotidiano. Por esse fato, acho que a moral não é o fator crucial para que alguém não enfie uma faca perpendicular ao pulso. Até matar alguém exige menos moral do que se matar. Mas, ao matar não se sente a dor e a sensação de quem está morrendo, diferente de matar a si próprio, onde o remetente e destinatário da morte são um só. Dor. Essa sim é a palavra certa, esse é o bloqueio do autoassassino. Quem não quer mais viver acha fácil se despedir desse mundo, mas, o difícil é o que se sente quando bater com o corpo a vários quilômetros por hora no chão, ou a faca cega que não rasga a pele com tanta firmeza fazer jorrar a vida. Esse sim é o medo, o sofrer pesa mais que o partir. A vontade vem quando não se tem saída, quando se quer dormir e acordar século que vem ou nos momentos de lágrimas contínuas causadas pelo sofrimento motivado pela ausência de qualquer necessidade essencial ao ser humano, tipo a felicidade. Suicídio é igual tatuagem: tem gente que quer fazer, mas tem medo da dor. E ao se fazer aquela marca, fica pra sempre, assim como a morte.Mesmo com tantas colocações sobre o polêmico assunto, eu apenas indago minha posição sobre o decidir quando partir. Tenho meus princípios e os prezo, cultivo a vida e a preservo, e esse é meu único dom.