17/06/2009

Gostinho bom de passado


Minha primeira memória de mim mesma é a de um abrigo de plush vermelho, que tinha um palhaço bordado na frente - mas dizem que antes disso eu comi um ovo de lagartixa achando que era uma amêndoa confeitada. Chovia muito na minha primeira noite trajando o abrigo de plush vermelho. E minha irmã nascia na Santa Casa de Misericórdia. Eu aguardava em casa, com minhas tias-avós, à luz de velas e comendo algo muito mais bacana do que ovinhos de lagartixa: chocolates em formato de moedinha. Eu tinha quatro anos, mas sabia muito bem que dali a algumas horas chegaria um bebê em casa. E eu já tinha um nome para ela: 'Jenny'.
Desde que me lembro de mim, sempre adorei festas de aniversário, embora no início eu me comportasse de maneira estranha: sempre vomitava às vésperas das festinhas! Às vezes, minutos antes do primeiro convidado chegar. Depois os ataques de ansiedade nervosa passaram (e um dia pode ser que todo esse conteúdo não vomitado se transforme em uma úlcera ou sei lá), e eu só chorava mesmo quando minha mãe atrasava para me apanhar na escola. Mas as festas eu aprendi a curtir. Meus pais preparavam-nas com intuito quase cenográfico. Só foi ruim quando o Brasil perdeu a copa jogando muuuito mal por sinal e a festa ficou mó zicada. Tinha como esporte predileto ensaiar cestas na boca do palhaço, eu já gostava de basquete essa época e era meu primeiro ano no GET ( ao todo, tem 11 anos que faço, acredita?) Era uma veia Broadway-Hollywoodiana que se manifestava desde a tenra infância e para onde eu canalizava todo meu talento de coreógrafa-basquete.
Tinha vergonha de tirar qualquer nota que não fosse 9,5 ou 10,0 quando estudava no colégio militar, mas depois no 1° ano essa vergonha se transformou em vontade de enforcar aulas e ponto. E foi assim que eu segui durante alguns anos: brincando com a Panasonic da minha mãe e dirigindo espetáculos rodados na garagem ou no jardim da minha casa, comendo sonho de valsa e goiabada com requeijão, tentando ganhar uns dois quilos porque eu era muito magra na época e jogando basquete como se fosse uma estrela em um campeonato.
Aí eu mudei pra Gyn em 2007, até hoje não sei bem por que, mas achava que essa informação poderia ser útil aqui. Morei dois meses em Nova Iorque, aos 5 anos, o que era bom porque eu já podia comprar meus próprios doces de Halloween. Mas de tudo, o que mais me marcou foi aquela vomitada que meu colega de van deu sobre o meu pé em nosso trajeto JFK-Big Apple (percebi neste momento que essa história de vômitos vem permeando minha vida). Depois de ser recebida em Nova Iorque por esse welcome exorcista, descobri, mesmo assim, que curtia viajar. E esse tem sido, depois de escrever, um hobby que tenho levado muito sério.
Hoje estudo das 07:00am às 20:00pm de segunda a sexta, e acho que tenho talentos em mim que são subaproveitados - todos eles envolvendo contas, redações e fórmulas. Sou viciada em Google, vinho tinto, muzzarela Quatá e biscoito de polvilho. Tenho amigas de infância que preservo até hoje, mesmo que elas estejam longe de mim geograficamente. Sou preguiçosa para quase tudo, menos para guiar na estrada, cozinhar e jogar basquete. Ainda tenho muita coisa pra aprender dentro de mim, mas ainda não sei se quero me casar. Começo a achar que tenho vontade de ter bebês, mas acredito que eles possam vir na forma de sobrinhos e/ou afilhados. Adoro dançar jazz quando estou um pouco bêbada, adoro fingir que estou um pouco bêbada só para poder dançar jazz.
Um dia, quero construir uma casinha no sítio da minha mãe, onde eu possa ter cachorros e passar os finais de semana prolongados cultivando hortas de manjericão. Em outro dia, quero ir morar em Londres. De vez em quando, gosto de falar inflamadamente sobre política, economia e religião. Mas geralmente, quero mesmo é assistir uma comédia romântica no sábado à noite e me acabar dentro de uma vasilha de pipoca. Ah, e eu queria ter vivido na idade média, em Veneza. Ah, e não tenho mais qualquer tipo de problemas para ganhar peso.