06/06/2009

Noite fria, chocolate quente


Às três da manhã estou sentado em frente ao computador, e do lado do mouse há uma caneca cheia com chocolate quente até o topo. A colcha de retalho da minha avó ajuda a esquentar meus pés friorentos calçados com meias de lã, dificilmente usadas e que me ajudam a escapar do frio. Meu samba-canção me deixa o mais confortável impossível. O silêncio da casa só é quebrado pelo tec-tec do teclado e pela respiração um pouco fungada do meu irmão que dorme. A cidade está manchada pela neblina densa, que quase nem se vê cidade, é tudo frio. E que frio! Tem uma massa de ar fria aí no país e blábláblá. É mais ou menos isso, nem vi a moça do tempo direito. Mas, nem é o tempo que me importa ali, ele só ajuda a dar aquele aconchego arrepiante. A fumaça do chocolate faz com que meus óculos se embacem e tenho que forçar as vistas pra poder ver o que eu estava escrevendo. Mas, nem precisava, era da Joules que eu escrevia, era também da minha insatisfação com a política corrupta e a miséria mundial. Mas, não foi a mesma coisa de sempre, foi muito fora da rotina, bem exótico e anormal. E pra mim, devia ser o que todos deviam fazer, lógico que não é ter que acordar de madrugada e tomar um chocolate bem quente, mas, sair da rotina, da mesma frase, da mesma música, do mesmo sorriso, da mesma cara para a mesma pessoa. Rola trocar a fita, mudar de pele, atualizar o moicano e o rabo de cavalo. Deixar de usar os uniformes da moda e as coleções de calçados inutilizáveis, apenas consumíveis. Trocar o sertanejo pelo reggae, o funk pelo blues e o MPB pelo street. Eu parei de viver em função do tempo para viver em função do vento, parei de me desgastar reclamando da física “exata” e comecei a evitá-la. Evitei o futuro e esqueci o passado pra viver no presente. Meu atual hobby é sair da rotina, é fazer o que ninguém faz, sofrer do que ninguém sofre e sentir o que ninguém sente. Eu decidi sair da órbita de um planeta pra me deixar levar pela loucura. Sentir a insanidade se apossar da minha sobriedade e minha ética e moral se autodestruírem.