30/04/2009

Ninguém te adora Alguém


Peso na consciência é o que eu sinto agora. Sinto meu coração se apertando acompanhado daquele sentimento que com certeza não seria capaz de descrevê-lo. Hoje – digo – nessa minha fase atual, eu dificilmente me arrependo de algo que faço. Mas, nem sempre foi assim! Uma desventura do meu passado me pesa – melhor – me aflige.
Fase da rebeldia. Tenho certeza que agora sua mente se dilatou de lembranças. Isso é orgânico, Durkheim explica. Eu não. Pois é, também curti muito. Mas nesse interstício, eu tive o prazer de conhecer Alguém (não sabia que seria um prazer, não mesmo). Depois de várias relações e interações sociais em nosso grupo, sétima série, nosso contato já era quase primário. Tudo corria bem, até que ocorre um fato social. Alguém virou punk. Que ridículo! Como aquilo era tosco. Podre, galerinha de modinha se enxergue! Foi-se, então, um laço corrompido. Também mais um ano vivido.
Eu variei de grupo. Alguém se mudou. Nem lembrava mais de Alguém, era uma pseudorepulsão. Alguém sumiu. Alguém se mudou de volta. Minha memória alienada se libertou de Alguém. Até aí tudo bem. De repente fui preso, me tornei um deltento. Oh doce destino, por que me usas como um barco à vela no rio? Se me governa, deixo que a correnteza me leve.
Num dia normal, num banho-de-sol na prisão. Com quem me deparo? Mais uma vez o sentimento indizível me corroeu as entranhas. Assustei. Alguém estava lá, bem de frente à minha covardia. Fingi que não vi, por medo talvez. Foi assim por um tempo. Um dia tivemos o primeiro contato. Beleza, Alguém está diferente. Alguém amadureceu, já não era mais punk pelo menos. Eu também. Menos um ano de deltenção, um ano de mais relações e interações sociais. Alguém e eu estávamos numa boa. Eu até admirava alguém, tinha algo a mais nele.
Uau, que destino utópico. Eu e alguém no mesmo grupo social. Massa! O grupo era outro. Eu era outro. Alguém era outro. Era uma relação harmoniosa. E eu nem me lembrava das desventuras rebeldes e punks do passado. Eu e Alguém conversávamos constantemente sobre uma garota virtuosa do nosso grupo. Ah, e que garota!
Um dia ouvi falar de uma web site de Alguém. Momento de redenção de Alguém na minha história (vida). Eu comecei a ler o que tinha no site, e aquelas linhas transcenderam meu ser. Linhas escritas com uma puritana sátira e ao mesmo tempo uma macabra delicadeza. Eu pirei, pirei, pirei mesmo. Juro! Que choque. Senti-me um World Trade Center sendo nocauteado por um avião controlado por Alguém, um avião cheio de inocentes palavras conformadas.
Alguém mudou tanto. Alguém se tornara um puta escritor. Ótimo em física – diga-se de passagem. Alguém me fez sentir mais um sentimento inenarrável. Ah! Como alguém me surpreendeu. Como Alguém é puro.
Eu era míope para Alguém. Finalmente tenho minha luneta mágica para enxergar-te Alguém. Alguém me fez nascer o que era apenas embrionário. Fez-me nascer essa vontade de escrever para tudo e sobre tudo. Essa vontade de escrever para a moça virtuosa, sobre um sentimento puro e cristalino.
Mas, perto de Alguém sou Ninguém. Ninguém que adora e admira Alguém. Por isso Ninguém quer agradecer Alguém por tudo, e fazer as desventuras do passado lembranças engraçadas.

Dedicado à Afar S.